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Cotidiano
Vereadora do Novo diz como é ser liberal e defender ideais progressistas no País, garante ter boa relação com a esquerda e defende poder da educação
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Cris Monteiro (Novo), em entrevista à Gazeta na Câmara de SP | Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo
Cris Monteiro é vereadora do Novo em primeiro mandato na Câmara Municipal de São Paulo e, como toda integrante do partido, é defensora de propostas liberais para a economia da cidade e do País. Porém, ela não é da turma de direita que se autointitula liberal na economia e conservadora nos costumes. “Isso é balela”, afirma. Cris se diz feminista e defende pautas como combate à violência de gênero, homofóbica e transfóbica, descriminalização da maconha e do cânhamo medicinal, cotas universitárias para negros e de um estado verdadeiramente laico. Ela garante: “Sou uma liberal progressista”.
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Em entrevista à Gazeta, em seu gabinete na Câmara paulistana, a vereadora de 60 anos que viveu a primeira metade da vida no Rio e a outra em São Paulo diz que não gosta de ser rotulada como direitista. Primeiro, pela polarização que opõem correntes ideológicas, como se elas não pudessem se interrelacionar por vezes. Depois, por sentir um certo constrangimento de várias figuras tidas como de direita na política nacional.
Ao ser questionada pela reportagem se sente-se solitária dentro da direita nacional por defender os ideais que defende, ela balançou a cabeça, abriu um sorriso e confirmou: “Sim, me sinto”. Ela afirma que o Livres, um movimento da sociedade civil que defende o liberalismo, a faz se sentir menos sozinha. “Eles prezam que a liberdade tem que ser ampla para todo mundo”.
Essa postura a fez cultivar uma relação positiva com figuras de esquerda da Câmara Municipal, como Erika Hilton (PSOL) e Eduardo Suplicy (PT) – “eles me adoram”, diz, orgulhosa. Esse perfil a fez ser relatora da CPI da Violência Contra Pessoas Trans e Travesti, presidida por Erika Hilton, onde costuma convergir em relação ao problema, mas discordar sobre as soluções. De forma saudável, assegura.
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A vereadora já acreditou que as pautas progressistas tinham sido usurpadas pela esquerda, mas agora pensa diferente. “Venho mudando de ideia. Na realidade essas pautas foram abandonadas pela direita. Obviamente, ao ver a bola quicando alguém vem e chuta. Nesse caso foi a esquerda”.
Apesar desses ideais, ela votou no atual presidente Jair Bolsonaro (hoje no PL, à época no PSL) no segundo turno das eleições de 2018, após escolher o companheiro de partido João Amoêdo na primeiro turno. A reportagem questionou se não é incoerente alguém que se diz progressista ter votado em Bolsonaro, e se não era claro já naquele momento o que ele defendia. Ela concorda, e se diz envergonhada pela opção.
“Eu tenho vergonha. Se eu pudesse agora eu cavava um buraco e enfiava a minha cabeça. Eu morro de arrependimento”, assume. Isso não significa que, se voltasse no tempo, deixaria o voto para Fernando Haddad (PT), o adversário de Bolsonaro no segundo turno. “Eu anularia”, garante.
É, inclusive, o que pretende fazer neste ano caso o segundo turno seja entre o atual presidente e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Eu não consigo gostar de nada do Lula, acho que tem um jeito de malandro. Nenhum dos dois teria permissão para entrar em meu gabinete”.
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Para Bolsonaro, ela dedica palavras duras, ao lembrar como o presidente já tratou as mulheres, os negros, os indígenas e a população LGBTQIA+. “Eu tenho pavor desse homem. Esse homem é uma excrescência”. E pensa um pouco, para não se estender em ofensas mais pesadas, “afinal ele é o presidente da República”.
Educação
A vereadora atuou em grandes bancos de investimentos norte-americanos, como JPMorgan, Bank of America e Goldman Sachs, mas resolveu que dedicaria seu mandato na Câmara de São Paulo principalmente à educação. O motivo, explica ela, foi o poder transformador que a educação teve em sua própria vida.
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Ela foi criada no subúrbio do Rio, filha de um militar de baixa patente e taxista e de uma empregada doméstica e vendedora de calcinha e sutiã de porta em porta. Ela nasceu com alopecia areata, uma condição autoimune que provoca a queda de cabelos – hoje ela usa peruca.
É o mesmo que sofre Jada Pinkett Smith, esposa de Will Smith, que foi alvo de uma piada do comediante Chris Rock no último sábado, e gerou uma confusão durante a festa do Oscar, nos Estados Unidos.
Por essa condição, a Cris brasileira ficava trancada em casa na infância, por medo de bullying. Seu pai, que amava livros, resolveu comprar publicações para a menina se distrair. A literatura fez uma revolução em sua cabeça e ela se aprofundou na educação.
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“Então acabou sendo uma coisa boa ter alopecia aerata?”, quis saber a reportagem da Gazeta. “Foi sensacional. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha Vidal Olha para mim hoje. Você está vendo uma mulher desgraçada, infeliz, miserável? Não está, né?”.
O primeiro projeto apresentado pelo seu mandato na Câmara de São Paulo conseguiu se transformar em lei em apenas cinco meses. A lei visa combater a evasão escolar – problema agravado pela pandemia da Covid-19 – por meio de estímulos à educação e busca ativa dos alunos que abandonaram os bancos escolares.
O projeto se baseou em um estudo do Insper, que mostra que o País perde R$ 414 milhões por ano apenas por consequências da evasão escolar.
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“A perspectiva era que a evasão, que já era grande, ia só aumentar. Pensamos em como amenizar o prejuízo e salvar essa geração”, explica Naira Sathiyo, assessora política de Cris e primeira suplente da vereadora, que acompanha a entrevista toda a pedido da titular do cargo e sabe todos os dados do projeto na ponta da língua. Além da política, Naira é cinco vezes campeã brasileira de esgrima, e diz que também teve a vida impulsionada pela educação.
“A educação salva, a educação resolve. Aliás, só a educação vai resolver”, sentencia Cris, para concordância imediata de Naira.
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Outros projeto que ela destaca relacionada à educação é um que ainda está em tramitação que autoriza a prefeitura promover convênios com organizações sem fins lucrativos para gerir escolas municipais, em um modelo parecido com as Parcerias Público Privadas em instituições de saúde.
E um outro projeto, que já se tornou lei, visa incentivar a presença e o crescimento da mulher no mercado de trabalho. “A ideia é disseminar boas práticas corporativas, aumentar oportunidades profissionais para mulheres e garantir um maior desenvolvimento econômico para a sociedade como um todo”, explica.
Relações de trabalho
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Como liberal, Cris é favorável de diminuir as regulamentações para a iniciativa privada, mesmo nos aplicativos de carona e entrega, como Uber, 99 e Ifood, alvos críticas no mundo inteiro por precarizar as condições de trabalho dos entregadores. Principalmente durante a pandemia.
Ela concorda que as condições de boa parte dos entregadores é difícil, mas acredita que o mercado por si só consegue resolver o problema. “Se os motoqueiros arranjarem melhores empregos, esse negócio vai quebrar. Eu gostaria muito de sentar à mesa e ser parte da solução, mas não posso obrigar a iniciativa privada a dar uma moto para o cara, por exemplo. Isso é iniciativa privada”.
Ela afirma que os direitos trabalhistas até o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) eram obsoletas, do tempo de Getúlio Vargas, e que o mundo mudou muito desde então. Apesar da crise de emprego e renda que persiste no País, ela diz acreditar na negociação entre patrão e empregado e na autorregulamentação da iniciativa privada.
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“Por exemplo, o FGTS. Se eu, como empregadora, chegasse para você e falasse que os 8% em vez de colocar no fundo eu darei diretamente para você, eu acho que você iria querer”, acredita. “Aliás, se todos os brasileiros quiserem sacar o fundo de garantia, não teria dinheiro para todos”, completa.
“Existe um imaginário construído culturalmente há muito tempo que esses direitos nos ajudam, mas não ajudam. Precisamos reaprender a viver sem eles”.
Por fim, ela afirma que o presidente Bolsonaro fez muito mal para o imaginário sobre o que é o liberalismo no País. “De liberal ele não tem nada".
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Briga com Janaína Lima
Em novembro do ano passado, durante a discussão da Reforma da Previdência na Câmara Municipal, Cris e Janaina Lima – na época também vereadora do Novo – discutiram de forma dura em plenário. Depois, uma acusou a outra de agressão dentro do banheiro da Câmara.
A Comissão de Ética do Novo decidiu em fevereiro deste ano expulsar Janaína (que se filiou ao MDB) e dar uma suspensão de um ano a Cris.
“O motivo é simples [da diferença de penalidades entre as duas]: eu sou a vítima da agressão. Uma coisa é discussão áspera, outra é agressão”, afirma.
Ela também disse que vai recorrer da suspensão de um ano ao partido. A Câmara Municipal continua a investigar o caso, e ainda não definiu as prováveis penas.
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