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Cotidiano
Agora como vereador, Coronel Salles pretende levar sua experiência como comandante-geral da PM para ajudar Ricardo Nunes a minimizar a crise da segurança pública no centro de SP
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O vereador Coronel Salles | Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo
Coronel Salles (PSD) ainda está se ambientando como vereador em São Paulo, mas já comanda uma CPI na Casa (a do Furto de Fios e Cabos) e uma frente parlamentar (a Pela Vida contra as Drogas), além de ter emplacado alterações no Plano Diretor para dar voz ao comércio em caso de alterações urbanísticas. Também está criando uma relação mais próxima com a Guarda Civil Metropolitana (GCM), a partir da sua experiência de quase quatro décadas na Polícia Militar.
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Ele assumiu o cargo em fevereiro deste ano, após o titular José Police Neto (PSD) deixar a cadeira na Câmara Municipal para integrar o secretariado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Antes, era subprefeito da Sé, em um momento de crise social na região, agravada pela pandemia. A experiência o fez perceber o que a região central precisa para buscar dias mais gloriosos: “O centro só terá força e vigor com duas coisas: segurança e movimento”.
Salles também foi comandante-geral da PM de São Paulo entre 2018 e 2020. No cargo, não se constrangeu em dizer na primeira entrevista, em 2018, que o salário dado pelo governo aos policiais era muito baixo. Hoje, apesar de ser aliado de Tarcísio e do prefeito Ricardo Nunes (MDB), volta a defender aumento à polícia e à GCM. No caso da Guarda, quer ainda que haja aumento do efetivo e do salário dos servidores.
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Nesta entrevista, ainda dá sua visão sobre a Operação Escudo na Baixada Santista e explica por que foi dos poucos vereadores a não ter votado pela cassação de Camilo Cristófaro (Avante) na Câmara, após acusação de racismo.
Em 2018, como comandante-geral da PM, o sr. disse em entrevista à “Folha” que o salário dos policiais no Estado era muito baixo. Hoje é suficiente?
O governador Tarcísio teve o maior esforço em melhorar o salário dos policiais, isso eu vi nele, mas por conta desse lapso de falta de recomposição ainda não é o suficiente. O nosso policial merece mais, mas a gente entende que é um começo. Nunca um governador fez o que o governador Tarciso fez. No seu primeiro semestre de mandato já buscou a recomposição salarial. Estou muito otimista com esse aceno que o governador faz em direção às nossas polícias.
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A presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), Jacqueline Valadares, se queixa que o salário dos policiais civis do Estado é um dos piores do País. Qual sua visão?
Tomo muito cuidado em fazer qualquer comentário em relação à nossa coirmã Polícia Civil. É uma instituição séria e com a qual atuamos muito juntos [durante seu período no comando-geral da PM]. Não tivemos nenhum problema em delegacias ou com, entre aspas, rixas institucionais. A Polícia Civil também merece uma recomposição salarial, já que, como no caso da PM, o salário está aquém do trabalho. São Paulo apresenta hoje os melhores indicadores de segurança do País. Hoje, a cidade de São Paulo tem, por exemplo, menos homicídios que Nova York e Miami [nos Estados Unidos], em números relativos.
Há um sentimento entre policiais que parte da sociedade é ingrata com o trabalho deles?
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Por vezes há, porque às vezes só se vê a fotografia, não se vê o filme. Agora estamos às 11h45 da manhã, e neste momento temos mais de 5 mil patrulhas no Estado inteiro. Quantos partos foram feitos hoje? Quantas crianças foram desengasgadas? Quantos infratores da lei foram presos? Quantos traficantes foram trazidos à responsabilidade? Quantos crimes foram evitados? A instituição tem noção do seu esforço e da sua renúncia. Durante os dois anos que comandei a Polícia Militar sepultei 23 policiais militares. Foram momentos muito difíceis, momentos muito duros, principalmente para as famílias. Mas repercute mais alguma inconformidade ou algum crime que tenha sido praticado por algum integrante da instituição do que o sacrifício da própria vida.
Por outro lado, não há dificuldade da corporação em receber críticas? Há muitas denúncias de excessos na Operação Escudo, por exemplo. O sr. acredita que houve excessos?
Acho que não, ou se houve até agora não veio à baila. Porque há muitas conjecturas. Fiz questão de subir à tribuna [da Alesp] e cumprimentar o secretário de Segurança e o comandante-geral pela pronta resposta em relação àquela comunidade que se vê refém do crime organizado.
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Mas apareceram denúncias de que houve opressão contra moradores que nada tinham a ver com o crime. O sr., então, não acredita nessa possibilidade?
Não posso assegurar que não houve porque não comando a instituição, porém até agora não apareceu nada. Agora, caso haja algum tipo de infração da lei, denúncia de tortura, a obrigação da polícia é apurar e trazer à responsabilidade.
Não existe defesa pela polícia até o fim com servidores infratores, então, como há quem diga?
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De forma alguma. A Polícia Militar é uma instituição legalista. Você não consegue comandar 90 mil homens e mulheres se não for pelo manto da lei.
Qual sua relação com a GCM, agora na esfera municipal?
A GCM, a exemplo da Polícia Militar, é um patrimônio. Ela cumpre um papel fundamental na segurança pública quando atua nas ações da subprefeitura; quando atua no meio ambiente, ao lado das represas na cidade de São Paulo; quando atua no comércio ilegal; quando atua na ocupação dos espaços públicos. Na semana passada estive na Guarda Civil e destinei R$ 500 mil [de emenda parlamentar] para a manutenção de 10 bases comunitárias móveis. Nas palavras deles, fui o primeiro comandante-geral a ir na Guarda Civil no exercício do cargo. Fui como subprefeito da Sé. E agora fui como vereador. É uma instituição fundamental.
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O efetivo da GCM de São Paulo é suficiente?
A Guarda Civil hoje possui um efetivo de 7,5 mil, muito aquém dos 16 mil previstos. O prefeito Ricardo Nunes deu um passo gigantesco quando contratou e formou mil guarda civis, e agora está formando mais 500. Caso seja reeleito, a ideia é a de formar um maior número ainda, para chegar o mais próximo do efetivo previsto.
Além do efetivo, a GCM precisa de algo urgente neste momento?
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Se possível, o aumento dos vencimentos. Pelo trabalho que a guarda faz ela merece mais. O prefeito fez um gesto gigantesco, recompôs parte salarial, mas ainda há espaço para melhorar o salário e o efetivo da GCM. É fundamental.
O sr. foi subprefeito da Sé entre 2021 e 2023, e especificamente a Praça da Sé passou a ser considerada um local perigoso e malcuidado nas últimas décadas. Por que o cidadão se sente perdendo o centro de São Paulo?
Existem algumas informações que às vezes as pessoas não se lembram. A pandemia foi um meteoro que atingiu o mundo. Por exemplo, as podas de árvores não foram feitas porque havia servidores com mais de 60 anos, que só trabalhavam em home office. E tinha uma cidade que não tinha frequência, as pessoas ficaram em casa. Esse hiato foi um golpe muito forte no centro de São Paulo. O centro só terá força e vigor com duas coisas: segurança e movimento. E o prefeito Ricardo Nunes está indo nessa direção.
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O prefeito está no caminho certo?
No caminho corretíssimo. Ele dobrou a Operação Delegada, passando para 2.400 policiais. Formaram-se mil guardas civis, e 400 estão atuando na inspetoria do centro. Aumentou a diária especial de atividades complementares da Guarda Civil [Deac]. Agora, numa proposta nossa, o prefeito mandou um substitutivo e a Guarda Civil receberá o mesmo valor da diária em relação aos PMs e aos policiais civis, algo que não acontecia desde a criação da Deac. Com o início da Operação Delegada à noite vamos conseguir utilizar o potencial do entretenimento noturno e das possibilidades de turismo à noite, dos hotéis. Haverá possibilidade de aumentar o movimento no centro de São Paulo, e o céu será o limite.
Como minimizar o problema social e de segurança da cracolândia?
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A gente só vai conseguir mitigar os danos da drogadição na cidade de São Paulo com quatro eixos, basicamente: o primeiro eixo é o de segurança pública, prender o traficante. O segundo é o de cuidar da saúde dessas pessoas, com consultório na rua, com tratamento, com internação, com comunidade terapêutica. O terceiro, com assistência social, temos que acolher essas pessoas. E o quarto é a reinserção social, seja de maneira laboral, pelo trabalho, seja de maneira lúdica, por música, teatro ou outras formas que a psiquiatria e a psicologia recomendem. E já ouvi cada barbaridade sobre esse tema...
Como assim?
Quando eu era comandante-geral uma senhora com formação acadêmica disse para mim: “Coronel, o sr. tem que acabar com a cracolândia”. Eu percebi na entonação dessa pessoa um ar muito belicoso, um ar muito duro, um ar muito árido, com uma expressão sem compaixão. “Defina acabar”, retruquei. E ela tomou um susto. E eu falei que temos que prender o traficante, mas também temos que acolher [o dependente]. Essa é uma face muito triste da nossa sociedade. Sabemos que eles [os usuários de drogas] dão trabalho, que há repercussões adjacentes da drogadição, como pequenos furtos. E temos que atuar, por polícia em cima, assistência social e saúde, mas não podemos jogá-los no mar. Foi para isso que o Brasil investiu quando a gente nasceu, para que a gente fizesse a formação e se constituísse em bons brasileiros para resolver os problemas. É por isso que estou aqui como vereador. É por isso que trabalhei como tenente, capitão, major, tenente-coronel, coronel. Para resolver os problemas, não para outra coisa.
Houve outros casos?
Quando eu era subprefeito um homem marcou uma audiência comigo e falou: “Coronel, eu tenho a solução para a cracolândia. Contratar ônibus e colocar essas pessoas todas dentro dos ônibus. E aí levar para uma fazenda, fechar a fazenda, cercar com a polícia, colocar macacões nessas pessoas e eles trabalharem de sol a sol”. Eu o ouvi terminar, e disse: “Bom, então o sr. quer criar um campo de concentração?” Ele disse: “Não, não”. De uma maneira muito enfática, continuei: “O sr. me perdoe. Estou achando que o sr. vem com uma pauta séria, mas o que o sr. está me falando é um desplante total. Então por favor o sr. queira se retirar porque nossa conversa encerrou. O sr. pode ser sério, mas a forma que o sr. vem me abordar não é séria”.
Como surgiu a ideia da Frente Parlamentar Pela Vida contra As Drogas?
Vamos tratar desse problema sob as várias óticas: da repressão, do tratamento e, principalmente, do cuidado. Estamos em contato com a Secretaria de Saúde para conseguir integrar as melhores estruturas da saúde para essas ações. Já está em curso a criação de um aplicativo chamado SOS Mãe. Será um aplicativo de apoio para as famílias dos dependentes químicos. Por exemplo, se o dependente tiver uma recaída depois de passar por tratamento, o familiar pode colocar que o filho sumiu, e os consultórios de rua conseguem acessar a foto dele. Ou se teve uma crise de abstinência o regulador vai poder mandar uma ambulância do Samu para socorrer essa pessoa.
Como vai o trabalho da CPI do Furto de Fios e Cabos? Há uma epidemia desse crime em São Paulo, não?
De janeiro de 2023 a abril de 2023 foram furtados 148 quilômetros de fios só da CET. Essa é a distância de São Paulo a Campos do Jordão. E o receptador é o pior vilão. Veja só: toda vez que aumento o valor do cobre na “London Metal Exchange”, uma câmara de metais ferrosos e não ferrosos de Londres, do outro lado do Atlântico, aumenta o furto de fios em São Paulo. Não é a pessoa em drogadição que sabe que aumentou o valor e sim o receptador, é esse o cara. Só que durante a CPI descobrimos um outro vilão.
Qual?
Aquele que compra o material do receptador para produzir um fio de má qualidade. Ele consegue a licença do Inmetro ao levar uma prova sólida, uma prova bitolada, e depois passa a produzir fios desbitolados. Ou seja, tínhamos um problema viário e escolas e hospitais sem energia, e agora nos deparamos com um problema tão grande quanto, que é a falta de segurança dentro dos nossos lares. Pode haver uma série de crimes: contra o consumidor, contra a saúde pública e é possível que tenha contra a administração pública. A Lei de Licitações prevê basicamente que se adquira o melhor produto pelo menor preço. Se tem um fio com carimbo do Inmetro e é mais barato, será que as nossas prefeituras estão comprando material de baixa qualidade, com risco de pegar fogo, para fazer habitação social. Não sei. A CPI vai tentar responder isso.
A CPI pretende apresentar algum projeto de lei?
Já temos duas propostas legislativas que serão apresentadas antes do fim da CPI. A primeira delas é a proibição de expedição de novos alvarás de funcionamento para ferros velhos no centro expandido da Capital. Quando fui subprefeito, por exemplo, achava endereço com 30 CNPJs. A abertura é feita pelo site, autodeclaratória. Eu notificava, fechava e ele abria com outro CNPJ. E a outra proposta é em caso de algum comércio ser surpreendido com atividade ilícita, a prefeitura poderá suspender o alvará por até 90 dias para que ele recoloque seu negócio nos trilhos, independente das repercussões judiciais – essa parte é administrativa. Hoje, a legislação diz que primeiro tenho que notificar, depois multar e por fim suspender o alvará.
O sr. foi um dos poucos vereadores da Câmara de São Paulo a não votar a favor da cassação do vereador Camilo Crisrófaro, acusado por racismo. Por quê?
Acredito na dosimetria da pena. O remédio não precisa ser amargo, ele tem que ser correspondente com o a infração que a pessoa cometeu. Na justiça, ele foi absolvido pelo juiz não ver dolo. Nós tínhamos duas situações. Ou ele era absolvido, coisa que ele não merecia, ele merecia algum tipo de punição, ou era cassado. E eu não concordava com nenhuma das duas. Ele merecia algum tipo de punição, mas poderia ter sido uma suspensão de 6 meses. Agora eu não recrimino aqueles que também cassaram. Você tem que julgar de acordo com a sua consciência.
O sr. apresentou o projeto Servidor Amigo do Autista. Do que se trata?
Esse é um orgulho nosso. Já passou em todas as comissões, com o objetivo de habilitar os 300 mil servidores da prefeitura para entender o que é o transtorno do espectro autista, o que fazer e o que não fazer. O nosso mote é a inclusão, é o respeito às pessoas. Estou muito entusiasmado.
Há também a inclusão de um conselho do comércio no Plano Diretor. Como funciona?
O conselho local de comércio já é lei e foi incluído no Plano Diretor Estratégico. O comércio vai ser ouvido na área de cada subprefeitura para alterações urbanísticas, como calçadas, ciclovias, iluminação e paisagismo. O empreendedorismo hoje é responsável por 600 mil empregos diretos e 2,4 milhões indiretos. Ou seja, estamos falando de um segmento responsável por 3 milhões de empregos numa cidade de 12 milhões de habitantes. O comércio está para a cidade de São Paulo como o agro está para o Brasil. Esse segmento deve ter voz.
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