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Profissional revelou ao Diário que muitos controladores e outros operadores estão fazendo outros trabalhos nos seus intervalos de escala para complementar a renda
22/06/2023 às 07:00 atualizado em 22/06/2023 às 14:52
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No Brasil, essa profissão tão importante e que requer tanta responsabilidade por parte dos profissionais, não remunera como deveria | IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA/DIVULGAÇÃO
Considerados 'anjos da guarda' da aviação, os controladores de voo são responsáveis o ano todo pela orientação de subida e descida de aviões, garantem a separação entre as aeronaves nos espaços aéreos controlados e fornecem informações aeronáuticas aos pilotos, ações que visam a conduzir os voos de forma segura e ordenada aos seus destinos.
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No entanto, no Brasil, essa profissão tão importante e responsável, não remunera como deveria. A Reportagem conversou com um controlador de voo brasileiro que, por questões de segurança trabalhista, preferiu não se identificar, mas revelou que o salário inicial hoje equivale a menos de R$ 800 dólares, R$ 3.824,00 mensais ou R$ 45.888,00 anuais. "Nos Estados Unidos, por exemplo, os controladores chegam a ganhar US$ 150 mil anuais (R$ 717 mil)".
Segundo informa, a perda salarial acumulada está fazendo com que muitos controladores e outros operadores da Navegação Aérea Brasileira estejam fazendo outros trabalhos nos seus intervalos de escala.
"Eu faço Uber para recompor salário. Isso interfere totalmente no intervalo para fadiga, previsto na legislação que rege nosso trabalho. Fazemos escalas que comprometem nossa qualidade de vida. Muitos trabalham em dias alternados todos os turnos de um dia (de manhã, tarde, noite e madrugada) e ainda fazem serviços extras nos intervalos", revela.
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O controlador explica que a defasagem salarial já remonta sete anos. Não há ganho real, trazendo perdas constantes de benefícios. "As perdas acumuladas chegam a quase 25%. Não temos reajuste salarial pelo INPC (Índice de Preços no Consumidor), que interfere diretamente no poder de compra. Perdemos percentuais de adicional noturno, horas extras e também férias", revela.
RESPONSABILIDADE.
Por ano, no Brasil, os profissionais controlam mais de 1,3 milhão de movimentos aéreos, que transportam mais de 100 milhões de pessoas e um milhão de toneladas de carga. Os controladores de voo permitem ao Brasil ter um dos mais reconhecidos sistemas de Controle de Tráfego Aéreo do mundo.
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Cerca de 70% do controle de tráfego aéreo no Brasil é feito pela Força Aérea Brasileira (FAB), o restante é civil. "Éramos, há dois anos, da INFRAERO (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), mas retiraram a Navegação Aérea dela e criaram uma nova estatal com o nome NAV Brasil", explica o profissional.
O serviço diário de um controlador é dinâmico e requer agilidade, concentração, sinergia, organização e, principalmente, trabalho em equipe. O principal desafio é manter-se atualizado constantemente para estar preparado para as situações adversas, como as de emergência.
Trabalham em centros operacionais de Controle de Aproximação, que conduz as aeronaves da decolagem até o início da fase de rota do voo, e do início da descida até o pouso. Nessa fase, as aeronaves estão mais próximas umas das outras e em altitudes menores, normalmente no entorno de uma cidade.
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O controlador determina a sequência das aeronaves para pouso, efetua as separações dos tráfegos em aproximação daqueles que estão realizando os procedimentos de saída, além de autorizar o ingresso de aeronaves em espaços aéreos controlados.
Outro local de trabalho é a Torre de Controle de Aeródromos, em que trabalham também militares nas posições operacionais de autorização de tráfego, controle de solo e controle de torre.
Em geral, as atribuições dos controladores nas torres são de emitir autorizações de decolagem e pouso para as aeronaves nos circuitos de tráfego e nas rotas especiais de helicóptero em sua área de jurisdição; autorizar os planos de voo, por instrumentos ou visuais; autorizar o táxi das aeronaves que saem e chegam, além da movimentação na área de manobra.
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Torres importantes como a de Guarulhos, Campinas e Santos Dumont entre outras são operadas por profissionais de tráfego aéreo civis vinculados a NAV Brasil.
"A falta de operadores em Guarulhos está acarretando excesso de horas extras e não se faz concursos públicos para substituir os operadores que estão se aposentando. Também existe o abandono da profissão por falta de um plano de carreira", finaliza o controlador.
SINDICATO.
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Lucas Borba Inácio, dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Voo (SNTPV), reforça que, desde de 2017, os acordos vem sendo abaixo da inflação.
"Até um último com zero % de correção, num período em que a inflação estava em dois dígitos. Acumulamos até agora mais de 25% de defasagem salarial, sem contar o aumento absurdo do plano de saúde que, para alguns, chegou em 40%, e outros benefícios que foram reduzidos".
Inácio confirma que o salário inicial é realmente baixo e não condiz com a responsabilidade e o comprometimento que os profissionais tem com a segurança do que fazem.
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"Sabemos que a aviação deu uma travada durante a pandemia, mas já retomou os patamares de anteriores a ela, com tendência de passar bastante. Mas nossa categoria não parou nunca. Não deixamos de prestar o serviço, pois ele é essencial e somos muito especializados para fazer".
Para a atual negociação, num período de inflação de 8,5%, que inclusive superou a expectativa inicial de 7,77%, a empresa patronal apresentou 3,06%.
NAV BRASIL.
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Procurada, a NAV Brasil afirma que é preciso esclarecer que a empresa pública NAV Brasil foi constituída em 30.06.2021, após processo de cisão parcial da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), de quem recebeu os empregados transferidos por processo de sucessão trabalhista - instituto jurídico em que são preservados os contratos de trabalho. A empresa disse ainda que segue rigorosamente os protocolos nacionais e internacionais de segurança.
Sobre o salário inicial, a empresa contesta a informação revelada pelo denunciante, mas não revelou o salário inicial. A NAV Brasil diz também que desconhece o fato de que funcionários exerçam outras funções fora da empresa com o intuito de obter uma segunda fonte de renda.
Em relação às negociações com sindicato representativo de seus empregados para a assinatura do “Acordo Coletivo de Trabalho para o período 2023-2025”, a companhia diz que tem buscado a valorização de seus profissionais, inclusive, no sentido de atenuar os impactos dos recentes reajustes dos planos de saúde, empreendendo, para tanto, todo o esforço possível junto à Secretaria de Governança das Estatais, do Ministério da Governança e Inovação no Serviço Público, a quem compete propor e estabelecer diretrizes e parâmetros de atuação sobre políticas de gestão de pes-soas, além de manifestar-se sobre propostas de acordos coletivos de trabalho. A negociação encontra-se em curso.
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