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Cotidiano
Compositor havia sido internado com uma infecção urinária e pneumonia, que evoluíram para infecção generalizada; exame confirmou estar com Covid-19
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Aldir Blanc em sua casa na Muda, na Tijuca, zona norte do Rio; compositor morreu na madrugada desta segunda-feira | Alexandre Campbell/Folhapress
A música popular do Brasil perdeu um de seus nomes mais importantes na madrugada desta segunda-feira: Aldir Blanc, aos 73 anos, morreu no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro. O letrista e escritor havia sido internado em 10 de abril em uma outra unidade de saúde com uma infecção urinária e pneumonia, que evoluíram para infecção generalizada. Um exame confirmou que estava com o novo coronavírus.
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Aldir Blanc deixa esposa Mari Lucia, quatro filhas, cinco netos, um bisneto e uma obra sem rival na música brasileira.
O compositor se foi no mesmo dia de Noel Rosa, o gênio da música que morreu em 4 de maio de 1937 e de quem Aldir era fã ardoroso. Em entrevista ao "Catraca Livre" em 2017, Aldir falou sobre suas influências musicais: "Eu aprendi muito com Noel Rosa, com Dorival Caymmi, com o samba-canção, com os boleros no vitrolão da vó Noemia em Vila Isabel. O jazz veio depois e me apaixonou".
Vida e obra.
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Nascido no bairro do Estácio em 2 de setembro de 1946, Aldir Blanc Mendes formou-se em medicina e se especializou em psiquiatria, mas a música sempre falou mais alto. Em 1973 passou a se dedicar exclusivamente às composições e à literatura. Além da música, manteve dois amores pela vida: o Carnaval e o Vasco da Gama.
O carioca escreveu ao lado de parceiros – sendo João Bosco o mais constante – letras históricas da música brasileira, como Resposta ao Tempo, O Mestre Sala dos Mares, Vida Noturna, Incompatibilidade Gênios, entre dezenas de outras.
Uma especialmente se destacou: O Bêbado e A Equilibrista, feita em parceria com João Bosco. A letra ganhou o país pela voz de Elis Regina e se tornou um hino da anistia, em um momento de respiro após os anos de chumbo da ditadura militar (1964-1985).
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"Liguei para Betinho e disse: agora temos um hino, e quem tem um hino faz uma revolução", disse Henfil ao "irmão do Henfil" citado na letra, o sociólogo Herbert de Souza, após ouvir a música.
Nas últimas décadas, Blanc se manteve recluso, com raras entrevistas e aparições públicas.
"Testemunha"
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O jornalista campineiro Bruno Ribeiro lembrou pelas redes sociais que Aldir Blanc morreu no mesmo dia de Noel Rosa. "Das pequenas delicadezas da morte: Aldir Blanc se foi num 4 de maio, assim como Noel Rosa - que ele considerava ser o maior letrista brasileiro de todos os tempos. E que de fato foi o maior. Antes dele", escreveu o jornalista.
João Bosco, o eterno parceiro, se despediu em um texto comovente. "Aldir foi mais do que um amigo pra mim. Ele se confunde com a minha própria vida". Por fim, João Bosco disse:"Perco o maior amigo, mas ganho, nesse mar de tristeza, uma razão pra viver: quero cantar nossas canções até onde eu tiver forças. Uma pessoa só morre quando morre a testemunha. E eu estou aqui pra fazer o espírito do Aldir viver".
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