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Cotidiano
Suzane voltou ao noticiário na última sexta-feira (26) devido ao nascimento de seu primeiro filho em um hospital particular da cidade de Atibaia
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No dia a dia em Bragança, onde Zecchini é reconhecido como membro de família tradicional, Suzane tenta não chamar a atenção | Marcelo Goncalves/Sigmapress/Estadão
Suzane von Richthofen, 40, dificilmente é vista nas ruas de Bragança Paulista, mas suas raras aparições no município do interior paulista, a 80 km da capital, são fotografadas, compartilhadas nas redes sociais e narradas tantas vezes por moradores que fazem parecer que a cidade está tomada por uma lenda urbana.
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Traje confortável, geralmente moletom com capuz ou gola alta, cabeça baixa e muito educada. Assim ela é descrita por frequentadores e trabalhadores do comércio no entorno do lago na área mais rica da cidade onde mora desde o ano passado e cumpre, em regime aberto, o período restante da condenação de quase 40 anos pelo assassinato dos pais dela, Manfred e Marísia, em 2002.
O crime chocou o país. O casal foi morto a pauladas enquanto dormia em casa, na zona sul de São Paulo, por Daniel Cravinhos, na época namorado de Suzane, e o irmão dele, Cristian. A então estudante de direito de 19 anos confessou ter planejado o ataque.
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Todos foram condenados por duplo homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas, além de fraude processual, porque alteraram a cena do crime para simular um latrocínio.
Suzane voltou ao noticiário na última sexta-feira (26) devido ao nascimento de seu primeiro filho em um hospital particular da cidade de Atibaia, a 25 km de Bragança, onde trabalha o marido dela e pai da criança, o médico Felipe Zecchini.
No hospital, uma funcionária confirmou ter conhecimento da realização do parto, explicando que oficialmente o estabelecimento não revela qualquer dado sobre seus pacientes, como determina a lei.
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No dia a dia em Bragança, onde Zecchini é reconhecido como membro de família tradicional, Suzane tenta não chamar a atenção. Cerca de uma semana antes do parto, marcou hora no salão de beleza que fica bem perto do seu endereço, mas se apresentou pelo segundo nome, Louise. Ela só foi reconhecida ao chegar ao local, contou um funcionário a clientes, que se encarregaram de espalhar a história.
Entre os 173 mil habitantes de Bragança também é fácil encontrar gente que jura saber o endereço e até conhecer alguém que já deu de cara com ela no condomínio. As afirmações sobre a residência dela normalmente são fruto de confusão ou fantasia.
Quatro endereços atribuídos a Suzane foram informados por dezenas de munícipes na segunda (29), quando a Folha esteve na cidade. Todos errados, embora ficassem no mesmo bairro do discreto edifício onde ela mora.
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Do circuito interno de câmeras do local chegaram a ser vazadas imagens que mostram o momento em que ela e o marido saem do elevador. O vídeo circula em grupos locais de WhatsApp.
Em um conjunto de prédios equivocadamente apontado com mais frequência como o endereço bragantino de Suzane, a confusão gerou boatos e reclamações que forçaram o síndico a iniciar uma investigação particular.
Ele contou ter olhado um a um os registros de todos os proprietários e inquilinos de apartamentos das cinco torres para prestar contas aos condôminos. A locatária de um ponto comercial no mesmo conjunto comentou que o boato resultou em questionamentos até mesmo de investidores estrangeiros que possuem imóveis ali. Os dois entrevistados pediram que o condomínio e seus nomes não fossem revelados.
Preocupado com os efeitos dessa comoção para a segurança local, o delegado seccional de Bragança Paulista,
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Sandro Montanari, conta ter iniciado uma averiguação para acompanhar os passos de Suzane no município.
Montanari verificou que as frequentes visitas ao município desde o primeiro trimestre de 2023 estavam autorizadas pela Justiça e que, no final do mesmo ano, ela recebeu permissão judicial para transferir o cumprimento da pena da também interiorana Angatuba, a 200 km de São Paulo, para Bragança.
Postagens na internet contendo piadas que soavam como ameaças, como montagens com Suzane em escolas, clubes e outros locais frequentados por famílias bragantinas, ligaram o sinal de alerta para que Montanari iniciasse o monitoramento a distância. "Os ânimos estavam mais exaltados nos primeiros meses, mas as coisas se acalmaram com o tempo", diz.
Apresentadora de um programa de notícias e variedades em uma rádio local, a jornalista Luci Miranda relata que seus ouvintes frequentemente enviam fotos e comentários em que deixam clara sua insatisfação com a presença da mulher na cidade. "Aqui em Bragança é como se fosse uma celebridade, mas malquista."
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Além das caminhadas no calçadão no entorno do lago com quadras de vôlei de areia na margem, Suzane é vista eventualmente fazendo compras na unidade de uma rede atacadista e num supermercado de alto padrão não muito longe de casa.
Fiscal de caixa em um dos estabelecimentos citados, Rosângela da Silva, 59, diz que ela e o marido são pessoas gentis. "Ela é muito quieta e não chama a atenção, os clientes nem sempre percebem quem é, mas os funcionários a reconhecem e sempre comentam", diz.
"Não acho que ela represente perigo", comenta.
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Recepcionista de uma clínica médica, Isabela Lima, 27, descreve como "chocante" o encontro que teve com a condenada em seu local de trabalho há poucos meses. "Não sou contra ela ter o direito de morar na cidade, mas acho chocante, por tudo o que ela fez."
É contra o que consideram uma frouxidão da legislação penal que os bragantinos direcionam sua indignação. "Se é direito dela, não tenho o que dizer, a nossa Justiça é que deveria ser mais rigorosa ao punir crimes hediondos", opina o empresário Giuliano Torricelli, 46, cuja agência de turismo fica perto da antiga residência da ex-mulher de Zecchini.
Defensor de Suzane von Richthofen durante toda a fase de conhecimento do processo -até o julgamento, portanto-, o advogado criminalista Mauro Otávio Nacif afirma que o cumprimento da pena em regime aberto está absolutamente em linha com a legislação do país.
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"Claro que as pessoas nem sempre concordam com isso quando comparam com a legislação de outros países", diz.
Conselheiro e amigo durante anos após a condenação, Nacif diz que não tem falado com a ex-cliente nesta nova fase da vida dela. "Ela não tem advogado neste momento e é representada por advogados nomeados pelo Estado na fase de execução da pena", diz. "Soube do nascimento do filho dela pela imprensa."
A Defensoria Pública paulista informou, porém, que o caso não está mais com o órgão há três anos. Isso ocorre quando um advogado particular é nomeado. A Folha não conseguiu fazer contato com o novo defensor.
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Condenada a 38 anos de prisão, com início em novembro de 2002, Suzane permanecerá cumprindo a pena, agora em regime aberto, até fevereiro de 2038, conforme a reportagem apurou. A execução está em segredo de Justiça.
A Folha de S.Paulo deixou recados em dois números de telefone de registros empresariais de Suzane, sendo que em um deles a resposta foi apenas para apresentar o link com o catálogo dos "produtos feitos à mão pela Su", dizia a mensagem.
Ela aprendeu a costurar durante o período que esteve presa e atualmente vende as peças que confecciona pela internet.
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"A Suzane não vai retornar a ligação mesmo", disse Nacif à reportagem. "Eu darei o recado, caso ela me procure."
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