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Cotidiano

Com diálogo, Marina Helou dribla polarização da Alesp

Deputada da Rede aprovou 5 projetos no 1º mandato; agora, promete ser oposição a Tarcísio, mas quer ficar marcada por outros avanços

Bruno Hoffmann

22/11/2022 às 10:40  atualizado em 22/11/2022 às 13:00

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Marina Helou

Marina Helou | Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

A deputada estadual Marina Helou (Rede) chega ao fim do seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) com algo raro para novatos na Casa: conseguir aprovar cinco projetos, a maioria relacionada à primeira infância e ao meio ambiente. Agora, reeleita para o cargo com mais de 85 mil votos, a administradora  de 35 anos promete aprofundar as pautas e ser oposição ao governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos).

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As conquistas soam ainda mais surpreendentes por ela ser a única parlamentar do seu partido na Alesp. Além disso, não costuma aparecer com opiniões polêmicas ou dedo em riste pelas redes sociais, num ambiente marcado pela polarização entre a esquerda e o bolsonarismo, com a máquina pesada do então governismo tucano no meio. Ela disse qual é o segredo para ter destaque em seu mandato inaugural: "Diálogo e negociação com a diferença", explicou, em entrevista aos repórteres da Gazeta, em seu gabinete na assembleia paulista.

"Enxergo a política como a tecnologia social mais incrível que a humanidade criou pra mediar conflitos legítimos na sociedade. É legítimo que a gente pense diferente, mas na política deveria encontrar as diferenças e negociar para construir soluções", explicou ela, sem medo de soar o que se convenciou a chamar de "isentona", como é tachada quem decide não caminhar pelos polos.

Marina Helou, durante entrevista à GazetaEttore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

No começo do seu mandato, lembrou, "apanhou" da direita e da esquerda na Casa, mas com o passar do tempo passou a ter aliados dos dois lados."Muitas vezes até me falavam: 'Marina, fala lá para o outro lado se a gente consegue ver determinada coisa", divertiu-se, ao relembrar esses momentos. Para Marina, isso traduz como conseguiu aprovar cinco projetos em apenas quatro anos.

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Como exemplo, citou a Política Estadual pela Primeira Infância, proposta apresentado por ela e aprovada por seus pares. Ela preferiu tirar do texto a palavra "gênero", que poderia ser um gatilho para o projeto de lei ser malvisto pelos colegas, ou criar uma animosidade gratuita. Isso nada mudaria o escopo do projeto, garantiu.

"Não queria entrar numa discussão que barrasse esse resultado. Mas não topei tirar do texto, por exemplo, a possibilidade de adoção por casais homossexuais, porque isso era concreto, isso muda a vida de alguém, isso permite que crianças que estejam sem vínculo familiar passem a ter uma família. A palavra 'gênero' era só espuma, e o foco sempre foi no que é concreto", explicou a parlamentar.

Marina HelouEttore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

A primeira infância foi principal tema do seu mandato inicial, e explicou que era fundamental se dedicar ao tema. "Essa é uma pauta que todo mundo gosta de falar, mas que ninguém gosta de trabalhar por ela, ninguém acha que tem que ser prioridade. Foi um desafio, mas a gente trabalhou muito na base do diálogo e no foco no resultado", celebrou.

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Assédios na Alesp

Dois casos marcaram a legislatura atual da Alesp, e ambos relacionados à violência de gênero: a suspensão de Fernando Cury (União Brasil, então no Cidadania) por seis meses por importunação sexual contra a colega Isa Penna (agora PCdoB, à época no PSOL) e a perda de mandato de Arthur do Val (União Brasil), após falas sexistas contra refugiadas ucranianas. Marina teve papel relevante na discussão e no julgamento de ambos os casos, por ser membro do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa.

Afinal, por que Cury foi apenas suspenso e Do Val perdeu o mandato, se o primeiro chegou a tocar no corpo de uma deputada sem permissão? Ela disse na entrevista que acha que ambos teriam que ter sido expulsos, mas que a bola relação de Cury com os colegas foi essencial para salvar o seu mandato.

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Marina HelouEttore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

"O Fernando Cury era muito mais querido pelos deputados da Casa, que se articularam para protegê-lo, mas não fizeram questão de fazer o mesmo com o Arthur do Val", relembrou.

Segundo ela, porém, a suspensão de seis meses contra Cury por uma violência de gênero fez a Alesp diminuir a tolerância contra o assédio , o que foi um avanço e permitiu que o caso de Do Val tivesse uma pena maior.
"Normalmente, Cury teria só uma advertência, mas a pressão da sociedade civil foi fundamental para ele perder o mandato por seis meses. Aquilo foi um marco importante, de tanta gente se unindo para dizer o quão absurda era aquela situação. O precedente permitiu que se cassasse o Arthur, porque aquilo já tinha se tornado inaceitável", analisou.

Fim das emendas

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A deputada estadual reeleita, que foi candidata a prefeita de São Paulo em 2020, afirmou que se tivesse uma varinha para mudar algo na política, daria fim às emendas parlamentares que cada deputado tem direito para executar ações com o dinheiro público, como compra de ambulância ou reforma de rodovias, por exemplo. 

Atualmente, disse, esse valor é de cerca de R$ 7 milhões por ano por parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e há uma proposta para superar os R$ 10 milhões anuais.

Marina HelouRepórteres da Gazeta durante entrevista com Marina Helou/Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

Segundo ela, as emendas trazem para o Poder Legislativo um papel de executor do orçamento que seria por princípio do Executivo, e são feitas em geral sem base em dados ou em construção de políticas públicas. Isso causa, entre outros males, na sua visão, uma desvirtuação do dinheiro público e um caminho para negociação de votos para construção de base eleitoral. 

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"Esses são os cenários mais republicanos, porque ainda há uma possibilidade de corrupção gigantesca. Esse é um problema muito grave e que se fala muito pouco", analisou a parlamentar.

Voto em Lula

A parlamentar votou em Lula nos dois turnos das eleições presidenciais deste ano. Ela afirmou que sonha com uma "terceira via" no cargo mais importante do País desde 2010, quanto entrou na política sob inspiração de Marina Silva, mas que viu que neste momento Lula era o nome mais forte para barrar o bolsonarismo.

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Ela também afirmou que Marina Silva, principal liderança da Rede, teve uma atitude ao se reaproximar de Lula, apesar dos ataques que sofreu de integrantes do PT no passado, principalmente na campanha eleitoral de 2014.

Marina SilvaEttore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

"Ela nunca perdeu a perspectiva coletiva do papel que  tinha, nunca deixou se tornar um tema pessoal. No momento em que olha para o Brasil e percebe que é muito importante reconstruir o País e afastar essa ala bolsonarista autoritária, ela faz isso a partir de uma proposta de país, trazendo para o Lula vários pontos que, acatados, fortalecem e constróem um projeto coletivo", disse.

Marina Helou viu com bons olhos a participação de Lula na COP 27 (27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas), no Egito. Segundo a deputada, o Brasil pode liderar uma agenda ambiental de impacto mundial.

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Sobre o histórico do petista no tema, apesar de ações consideradas reprováveis por ela, como o investimento na construção da usina de Belo Monte, no Pará, ela exaltou que sob os governos Lula houve a maior redução histórica de desmatamento no País.

"Ele já fez muito pelo meio ambiente e acho que aprendeu com os erros. A articulação que ele pode ter frente aos outros países vai passar por uma agenda do meio ambiente. Estar na COP neste momento é  uma sinalização de que ele entendeu isso, e estou animada ", afirmou ela, que é é coordenadora da da Frente Parlamentar Ambientalista pela Defesa das Águas do Saneamento da Alesp.

Marina HelouEttore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

A deputada espera também que Lula, segundo suas palavras,  foque em reconstruir políticas que foram colocadas de lado durante o governo Bolsonaro. "O Brasil retrocedeu em todos os índices educacionais, as nossas crianças não estão mais aprendendo a ler. Cortaram o remédio da Farmácia Popular do orçamento. Não tem nem dipirona para pegar na farmácia", lamentou.

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De acordo com a parlamentar, é necessário começar a reconstruir a nação pelos grandes temas, como saúde, educação e meio ambiente, e depois fazer uma discussão profunda sobre o futuro do País.

Como deputada da Alesp, também espera entrar nessas pautas a partir de uma visão estadual, "apesar do governador ser aliado de Bolsonaro", disse. "Espero que, mesmo com ele, a gente consiga avançar nos próximos quatros anos. Não quero ficar marcada só por ser oposição ao Tarcísio".

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