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Cotidiano
Lista obtida com exclusividade pela Gazeta aponta que 65 edifícios já apresentam inclinação "acentuada", conforme parâmetros da ABNT
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Prédios tortos da orla de Santos são atração para turistas | Nair Bueno/Diário do Litoral
Para os turistas, os prédios tortos de Santos são uma atração a mais na cidade que concentra belezas naturais, qualidade de vida e história riquíssima. Para parte dos moradores, não é bem assim.
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Para engenheiros, passou da hora de resolver o problema estrutural que atinge 319 edifícios. Destes, 65 já atingiram inclinação “acentuada”, conforme parâmetros estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Para se ter uma ideia da extensão do problema, Santos é a cidade com a maior quantidade de prédios inclinados no mundo. Só a Cidade do México tem um solo mais inseguro para a construção civil que a ‘capital’ do Litoral Paulista.
E até torres ‘modernas’ estão entortando, conforme documento obtido com exclusividade pela Gazeta.
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Essa “excentricidade”, como define o engenheiro José Carlos Garcia, no entanto, começa a preocupar moradores e especialistas em cálculos estruturais.
Síndicos decidiram formar uma inédita associação para buscar linhas de crédito de longo prazo e com juros subsidiados. A ideia é pedir ajuda ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estabilizar essas 319 edificações.
O primeiro encontro do grupo aconteceu no último dia 6, e os síndicos devem voltar a se reunir no próximo dia 27, já com a minuta de um estatuto e de uma figura jurídica capaz de viabilizar a negociação coletiva, em nome de todos os condomínios inclinados.
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“Já se esperou demais para buscar uma solução”, salienta Garcia, que há mais de 40 anos acompanha o mercado da construção civil na Cidade.
O engenheiro calculista evita o tom alarmista, mas explica que tradicionalmente os ventos em Santos ficavam na casa dos 45 quilômetros por hora. Porém, com as mudanças climáticas, a Cidade já registrou picos com ventanias de até 100 km/h.
A velocidade dos ventos é um dos fatores mais importantes nos cálculos estruturais de uma edificação.
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O problema estrutural nos prédios de Santos começou a ficar evidente há 45 anos, quando uma torre localizada no Canal 4 com a praia precisou ser interditada.
Naqueles dias, o Edifício Excelsior atingiu um desaprumo de 1,20 metro. Hoje, engenheiros ouvidos sob a condição do anonimato afirmam que há edifícios com 1,80 metro de desalinhamento.
65 torres já atingiram inclinação “acentuada”, requerendo maior atenção do poder público.
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Essa condição de declividade “acentuada” está prevista na norma NBR: 6118-2003, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). E se dá quando a inclinação da estrutura é igual ou superior a 0,5% da altura total da construção.
Ou seja, para a ABNT o desaprumo “acentuado” começa a partir de meros 15 centímetros no caso de edifícios com dez andares.
Essa declividade é medida comparando o desalinhamento entre as paredes do térreo e da última laje, no topo da edificação.
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Parece pouco, mas nesse nível os encanamentos já podem apresentar problemas.
Trincas podem surgir nas paredes. E pessoas com labirintite já sentem algum desconforto. “Dá muita dor de cabeça aos síndicos”, resume Garcia.
Portas abrem ‘sozinhas’, janelas e o horizonte visto a partir desses prédios são completamente assimétricos, desafiando as linhas paralelas das construções convencionais.
A água não necessariamente corre em direção ao ralo, espelhos e quadros ficam inclinados.
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Bolas ganham vida própria, rolando aleatoriamente para um dos cantos do imóvel.
Apesar da “excentricidade” descrita pelo engenheiro, a Prefeitura afirma que as inclinações não representam risco de colapso estrutural imediato.
O assunto, porém, é tabu na Administração Municipal, que não disponibiliza nenhum técnico para entrevistas.
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