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Cotidiano
Delegados da Polícia Civil e integrantes do Judiciário estadual criticaram duramente a indicação do Capitão Derrite (PL) para a SSP
02/12/2022 às 13:43 atualizado em 02/12/2022 às 13:51
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Guilherme Derrite, 38, foi indicado para a chefia da Segurança paulista na quinta | Marcelo Camargo/Agência Brasil
A escolha do bolsonarista Capitão Derrite (PL) para ocupar a Secretaria da Segurança de São Paulo abriu a primeira crise do futuro governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) no principal estado do país.
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Delegados da Polícia Civil e integrantes do Judiciário estadual criticaram duramente a indicação do deputado federal reeleito pelo PL de Jair Bolsonaro, numa disputa que vai além de questões paroquiais e entra na seara do embate entre os aderentes do mandatário derrotado em outubro e o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Guilherme Derrite, 38, foi indicado para a chefia da Segurança paulista na quinta (30) com o apadrinhamento de Eduardo Bolsonaro, deputado pelo PL-SP e filho do presidente. Integrante da Polícia Militar, ele se lançou na política em 2018, elegendo-se para a Câmara na onda que levou Bolsonaro ao poder.
Adotou a alcunha de capitão, posto ao qual ascendeu depois de deixar a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa de elite da corporação paulista, onde chegou a tenente e comandou patrulhas de 2010 a 2013.
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A unidade é historicamente conhecida pela ferocidade de suas ações, o que combinava com o ideário bolsonarista.
Em 2014, migrou para o Corpo de Bombeiros, que faz parte da PM, onde ficou até entrar na política. É um aliado incondicional da família do presidente, divulgador de ideias do clã na internet e teve a indicação elogiada por Eduardo.
Há diversos pontos de crítica ao indicado. Primeiro, como deputado Derrite propôs um projeto de lei dando poderes de investigação à PM, algo que constitucionalmente é privativo da Polícia Civil.
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Hoje, policiais militares já driblam a diretriz legal associando-se a promotores –há inúmeros casos de apurações do Ministério Público iniciados a partir de relatórios de operações policiais, pulando delegados civis.
O temor é que isso se prolifere, mesmo sem nenhuma alteração legal, que de resto deveria ser na Constituição.
Derrite, assim como Tarcísio, também se mostrou contrário ao uso de câmeras em uniformes, medida que reduziu a letalidade policial no estado. A revogação da medida ainda está sob análise.
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Há a questão hierárquica, associada à juventude do deputado. Na ativa como PM, ele foi oficial subalterno, e como secretário comandará os coronéis do topo de carreira da corporação.
Por fim, a própria associação que ele vende é inédita: nunca houve um secretário da Segurança oriundo da PM, que é a maior força do estado com 93 mil integrantes.
Após um período controlada por militares na ditadura, a Segurança passou anos na mão de um grupo de promotores, procuradores e juristas.
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Isso mudou no governo João Doria, então no PSDB, que mudou a estrutura do setor. Colocou um general de quatro estrelas da reserva do Exército, João Camilo Pires de Campos, dando status de secretarias-executivas para a PM e para a Civil, que conta com 27 mil policiais no estado.
Com isso, buscou-se algum equilíbrio nas rivalidades, num momento em que o bolsonarismo se fazia ver nas fileiras da PM. A Civil, por sua vez, é bastante ligada ao grupo de Moraes, que foi secretário da Segurança do hoje vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB, então no PSDB), de 2015 a 2016.
A indicação de Derrite, um bolsonarista de quatro costados, é um desafio também a essa influência.
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Moraes é o assinalado como o inimigo político número 1 do bolsonarismo, tendo desferido um duro golpe contra a campanha golpista do presidente ao rejeitar o questionamento às urnas eletrônicas feito pelo PL e multando o partido em R$ 23 milhões.
Com a agitação, tudo o que o novo governador não quer, a saída de Tarcísio foi sinalizar à Civil uma acomodação prometendo o cargo de número 2 na Segurança ao atual delegado-geral do estado, Osvaldo Nico Gonçalves.
Ele esteve em reunião com Tarcísio nesta quinta (1º), conforme informou o jornal O Estado de S. Paulo. Na conversa esteve também Derrite e Arthur Dian, o diretor do Departamento de Operações Policiais Estratégicas que é cotado para assumir o cargo de Nico no novo governo.
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Segundo a reportagem ouviu de pessoas a par do assunto, não houve uma decisão por parte de Nico. O assunto deverá ser discutido em uma reunião do Conselho da Polícia Civil na próxima quarta-feira (7).
É incerto o sucesso da manobra, dada a influência de Moraes sobre a polícia responsável pelas investigações. A reportagem não conseguiu contato com Derrite, Nico ou o governador eleito.
Até aqui, Tarcísio tem buscado um equilíbrio entre a moderação conservadora que apelou ao eleitorado centrista paulista, alijando da disputa do segundo turno o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), e o voto bolsonarista puro.
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Símbolo do ímpeto de moderação é a indicação de Gilberto Kassab, o presidente do PSD, para a estratégica Secretaria de Governo de Tarcísio. O pessedista foi o principal fiador da candidatura do ex-ministro da Infraestrutura.
Por outro lado, Derrite assumiu a importantíssima área da Segurança, que durante todo o governo Doria foi assediada pelo bolsonarismo, o que tem levado a questionamentos acerca do futuro da politização das corporações –vide as interferências de Bolsonaro na Polícia Federal e a investigação sobre o uso político da Polícia Rodoviária Federal na eleição.
Além de Derrite, foi indicado para o Turismo um pastor, Roberto de Lucena (Republicanos), para agradar essa fatia do eleitorado mais próxima do presidente.
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