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Cotidiano
O petista disse que o aborto deveria ser tratado como questão de saúde pública
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Lula | Ettore Chiereguini/Gazeta de S, Paulo
As falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o aborto e em defesa de que militantes pressionem famílias de deputados para barrar projetos no Congresso repercutiram entre parlamentares. Nesta quinta (7), enquanto integrantes da bancada evangélica e conservadores atacaram o presidente, aliados viram erro estratégico nas declarações do petista.
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Na segunda-feira (4), em evento da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Lula defendeu que a militância sindical procure deputados e familiares em suas casas para pressionar por propostas de interesse do setor em um eventual governo petista.
Em outra fala, disse que o aborto deveria ser tratado como questão de saúde pública. Diante da repercussão negativa, Lula tentou amenizar as declarações nesta quinta.
O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), criticou a tentativa de Lula de minimizar suas falas.
"Eu acho que o Lula está ficando Senil. A idade chegou", ironizou. "Porque agora, hoje, quinta-feira, ele começou a falar que não falou aquilo que disse, que ele não é a favor de aborto, e começou a tentar desfalar tudo o que disse essa semana."
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Sóstenes afirmou ainda que o governo do petista "lutou para matar crianças no ventre das suas mães."
"Esse é o governo da esquerda. Toda esquerda defende isso o tempo todo. Agora está chegando a eleição e você quer falar que é contra o aborto...agora está querendo acomodar a sua verdade que você falou no início da semana. Lula, você não engana mais o povo brasileiro. A esquerda, o PT e você, Lula, quer matar criança no ventre."
O presidente da frente evangélica chamou de "ato de covardia" as declarações envolvendo familiares de políticos.
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"A política tem regras. Uma das regras da política é respeitar a família. Eu estou na política, eu sou homem público. Meus filhos e minha esposa não têm nada a ver com isso, Lula. E você sabe que essa é uma regra da política."
Também evangélico, o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) afirmou que as declarações do ex-presidente foram infelizes e indicou que temas polêmicos não têm espaço para debate, tendo em vista o conservadorismo do país.
"Pela questão [de eu ser] da igreja e tudo o mais, eu sou totalmente contra [o aborto]. Acho que o presidente Lula foi infeliz nessa fala dele", afirmou o parlamentar.
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"Acho que o Brasil é um país muito conservador. Essa questão de abordo, ideologia de gênero nas escolas, uma série de assuntos polêmicos [...] ultimamente, ele está sendo o maior cabo eleitoral do presidente Bolsonaro, pelas falas dele polêmicas", completou.
Também conservador, o bolsonarista Luis Carlos Heinze (PP-RS) descreveu as falas de Lula como um episódio "inoportuno".
"É a posição dele. Eu sou contra esse assunto, em respeito à Igreja, a posição que a igreja toma sobre esse tema, as igrejas de uma maneira geral. Não concordo com a posição dele. Inoportuno o fato", afirmou.
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Para o deputado Marco Feliciano (PL-SP), Lula radicaliza o debate porque quer fugir da raia. "Pura estratégia de quem viu que vai perder e agora corre para se inviabilizar. Pois, ao defender o a
borto abertamente, pelo menos com os 30% de brasileiros que são evangélicos ele se inviabilizou."
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que o ex-presidente tem o direito de manifestar a sua opinião e disse ainda ser importante um pré-candidato informar a população sobre suas visões para temas polêmicos. No entanto, disse discordar da posição.
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"Primeiro que há liberdade de expressão, é livre a manifestação do pensamento, em especial de quem pré-candidato e é muito importante que tenha os seus pensamentos manifestados para a compreensão da população que vai votar em outubro", afirmou Pacheco, em relação à posição sobre o aborto e não sobre a pressão sobre parlamentares.
Pacheco, no entanto, afirma discordar da posição do ex-presidente e que considera as hipóteses legais de aborto atuais as mais adequadas para o momento vivido pelo Brasil.
O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PSD-AM), avaliou que o petista não deveria tratar de temas que podem ampliar a polarização do país. Na avaliação dele, o ex-presidente deveria estar falando sobre desemprego, inflação e fome, que são os aspectos mais frágeis do governo Bolsonaro.
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"É isso o que mais importa para a vida do povo. Esse discurso da radicalização contra o Congresso, do aborto, ele só interessa ao Bolsonaro", disse.
"A questão é se nós queremos jogar no campo do Bolsonaro ou no nosso campo, se vai deixar acontecer o que aconteceu na última eleição ou se nós vamos levar à eleição um debate mais profundo sobre os problemas do Brasil onde eu tenho certeza de que o Bolsonaro não se sustenta."
Nos bastidores, aliados do petista também veem erro estratégico, ainda na esteira do que foi visto como "salto alto" da pré-campanha não oficial do ex-presidente à Presidência. Para eles, levar a discussão a esse campo só aumenta o risco da atual disputa pelo Planalto, como evidenciado por pesquisas recentes.
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Por outro lado, deputados progressistas defenderam as declarações do ex-presidente. "Tratar a questão do aborto como saúde pública é o mínimo em um país que a quinta causa de mortalidade materna são os abortos clandestinos", afirmou a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).
"Fico estarrecida que tenha gente que fique chocada com a declaração do Lula e não com a ministra dos Direitos Humanos [Damares Alves] que queria que uma criança de dez anos gerasse o fruto de uma violência sexual."
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