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Cotidiano
Ruas e avenidas viraram protagonistas na emissão de gases do efeito estufa e contribuíram para piora na qualidade do ar respirado pelos paulistanos
11/04/2024 às 18:00
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Aumento de frota em São Paulo | Thiago Neme/ Gazeta de S. Paulo
A frota de veículos cresceu 82,33% na Capital em 16 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
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Os principais vetores desse crescimento foram as caminhonetes movidas a diesel, com alta de 203,57%, e as motocicletas movidas a gasolina, com aumento de 175,09%. Ou seja, as ruas e avenidas de São Paulo foram protagonistas de uma escalada vertiginosa na emissão de gases de efeito estufa.
Esses gases tóxicos produzidos a partir da queima de combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel, são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas e pelos eventos extremos, como alagamentos e ondas de calor. E eles também têm papel fundamental na piora da qualidade do ar que os paulistanos respiram.
Em números absolutos, o número total de veículos registrados na Capital saltou de pouco mais de 5 milhões em 2006 para 9,1 milhões em 2022. No mesmo período, a população paulistana saiu de 11 milhões para 11,9 milhões, segundo estimativas do IBGE. Ou seja, em 2006, havia um veículo para cada 2,19 habitantes. Em 2022, essa relação já era de 1,30 morador para cada veículo emplacado no Município.
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E, conforme revelou com exclusividade a Gazeta na última semana, a concentração de ozônio na Capital disparou em todas as estações de monitoramento da Cetesb nesta década. Em fevereiro, 11 dos 15 bairros monitorados pela agência ambiental ligada ao Governo do Estado apresentaram condição “moderada” de poluição para o ozônio.
Isto significa, conforme a definição da própria Cetesb, que “crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas podem apresentar sintomas como tosse seca e cansaço”. Mas, o quadro pode ter sido ainda pior.
Em fevereiro, quatro das 15 estações da Cetesb não estavam em operação ou captaram dados incompletos ao longo dos 29 dias de fevereiro. Ou seja, é possível que todos os bairros monitorados pela agência ambiental tenham registrado qualidade do ar inadequada, colocando em risco a saúde de pessoas integrantes dos “grupos sensíveis”.
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O ozônio é um poluente que não é emitido diretamente na atmosfera por nenhuma fonte. Segundo a definição da Cetesb, esse poluente é formado através de reações provocadas pela combustão de combustíveis fósseis. E esses são justamente os combustíveis usados pelos campeões de vendas no segmento automotivo.
Segundo o IBGE, no mesmo período o número de caminhonetes saltou de 185 mil para 564 mil na Capital. E, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, são consideradas caminhonete os veículos destinados “ao transporte de carga com peso bruto total de até 3.500 quilos”.
Ou seja, são pequenos transportadores de entregas, adequados à carga e descarga na região central e nos bairros mais adensados. E todos eles são movidos a diesel ou gasolina. E são diferentes das camionetas, que carregam carga e gente ao mesmo tempo, muitas delas com a opção de abastecimento com etanol, que não emite gases do efeito estufa nem contribui para formação do ozônio.
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Já o número de motocicletas saltou de 422 mil em 2006 para quase 1,2 milhão em 2022, movido principalmente pelo avanço dos serviços de entregas domiciliares de alimentação. E todas essas motocicletas são movidas a gasolina.
A quantidade de ônibus e micro-ônibus a diesel também cresceu perto de 50% no período analisado pelo IBGE.
Enquanto isso, os automóveis flex, que oferecem a opção de abastecimento com biocombustível, tiveram crescimento mais tímido, especialmente entre 2012 e 2022, com alta de 25%, apesar dos preços favoráveis do etanol ao consumidor.
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Veja a frota de veículos da cidade de São Paulo:
Tipo de veículo |
2006 |
2022 Continua depois da publicidade |
Alta |
---|---|---|---|
Veículos em geral | 5.018.373 | 9.150.267 | 82,33% |
Automóveis | 3.781.040 | 6.094.036 | 61,17% |
Caminhonetes | 185.790 | 564.004 | 203,57% |
Motocicletas | 422.181 | 1.161.416 | 175,09% |
Micro-ônibus | 26.710 | 41.289 | 54,58% |
Ônibus | 35.270 | 50.159 | 42,21% |
Ou seja, diante do aumento nas concentrações de gases tóxicos, o trânsito paulistano não mata só pelos acidentes e atropelamentos, mas ele pode estar potencializando também doenças respiratórias e cardíacas que podem levar a óbito.
Inicialmente, os primeiros grupos a sentir esses efeitos são crianças, idosos e portadores de doenças crônicas. Porém, a contínua piora na qualidade do ar acaba afetando toda a população.
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E o problema fica mais evidente quando se observa que sete das 15 estações da Cetesb espalhadas pela Cidade indicaram qualidade do ar “ruim” em fevereiro devido ao aumento nas concentrações de ozônio. Uma delas, no Ibirapuera, chegou a registrar qualidade do ar “muito ruim”. O bairro do Ipiranga foi onde a poluição mais cresceu nesta década, com alta de 500%, segundo os dados da Cetesb.
No mesmo período da pesquisa realizada pelo IBGE que apontou o aumento de 82,33% na frota de veículos na Capital, a Prefeitura de São Paulo entregou 667,1 quilômetros de faixas exclusivas para ciclistas. Mas, esse tipo de investimento se tornou prioridade no período entre 2012 e 2022.
Durante a gestão de Gilberto Kassab (2006/2012) foram inaugurados, em média, 10,9 quilômetros por ano, nos dez anos seguintes, essa média saltou para 60,2 quilômetros/ano.
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Essa valorização das bicicletas como alternativa aos veículos que poluem o ar respirado pelos paulistanos se intensificou nas gestões dos ex-prefeitos Fernando Haddad (2013/2016), João Dória (2017/abril de 2018), Bruno Covas (abril de 2018 a maio de 2021) e Ricardo Nunes (maio de 2021 a dezembro de 2022). Nesses dez anos, foram implantados 601,9 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas.
Hoje, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), “a cidade de São Paulo tem a maior malha cicloviária do País”, com 731,2 quilômetros.
A CET alega que a atual gestão “trabalha para entregar uma malha de aproximadamente mil quilômetros de extensão até o fim de 2024”.
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Porém, a Administração Ricardo Nunes admite que “atualmente, a expansão da malha prossegue com a implantação de 120 quilômetros de estruturas para bicicletas por meio de parceria público-privada (PPP)”.
Ou seja, somada a malha atual com os 120 quilômetros em obras, o atual prefeito deve encerrar este mandato com cerca de 850 quilômetros de faixas exclusivas para ciclistas e não com os mil quilômetros previstos no Plano de Metas.
A Gazeta procurou a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos (STM) para detalhar a expansão das linhas de trens e do metrô, como alternativas aos veículos particulares, mais poluentes.
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Porém, através de sua Assessoria de Imprensa, a STM pediu à reportagem que solicitasse as informações acerca de investimentos em novos trilhos e composições ao Serviço de Informações ao Cidadão (SIC) da própria STM.
Consultado, o SIC da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos respondeu que a consulta deveria ser feita individualmente aos respectivos Serviços de Informações ao Cidadão da Companhia do Metropolitano de São Paulo e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.
Procurados, os SICs do Metrô e da CPTM deram a resposta lacônica de que a solicitação de informações foi recebida. E estabeleceram prazo de 20 dias para responder, prorrogáveis por mais dez dias.
E todo esse mistério (ou falta de transparência) estaria amparada pelo Artigo 14 do Decreto 68.155, assinado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 9 de dezembro de 2023.
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