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Cotidiano

Adolescentes acusados de roubo relatam agressões por PMs na Zona Leste de SP

Secretaria de Segurança Pública nega agressão e afirma que jovens confessaram o crime

Hebert Dabanovich

07/06/2024 às 11:50  atualizado em 07/06/2024 às 12:14

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Jovens foram coagidos pelos policiais

Jovens foram coagidos pelos policiais | Reprodução

Dois adolescentes de 14 anos, acusados de roubar um carro na Zona Leste de São Paulo, relataram terem sido agredidos e ameaçados de morte por policiais militares. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) nega as acusações e afirma que os jovens confessaram o crime e foram reconhecidos pela vítima.

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O assalto

Um motorista de 60 anos, que estava em um Onix prata, foi roubado na Rua Lourenço Leite Penteado, 130, no Parque São Rafael, em 16 de maio. Ele afirmou à Polícia Civil ter sido abordado por 4 pessoas enquanto estava parado.

Um dos suspeitos abriu a porta do carro e disse 'perdeu, perdeu'. Os assaltantes levaram o carro, e o idoso disse não ter visto arma de fogo com eles.

Logo em seguida, ele contatou a polícia sobre o roubo, e cerca de 10 minutos mais tarde, recebeu o telefonema para comparecer à delegacia.

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A Prisão e a versão policial

Na noite de 16 de maio, Lucas e Rafael (nomes fictícios) foram detidos pela polícia militar. Segundo o boletim de ocorrência, os policiais flagraram um Chevrolet Onix roubado na contramão e, ao tentar abordar o veículo, os adolescentes teriam fugido a pé. Após uma breve perseguição, foram capturados e levados para a delegacia.

A SSP afirmou que os adolescentes confessaram o roubo e foram reconhecidos pela vítima, um homem de 60 anos. O idoso detalhou que quatro pessoas o cercaram, puxaram-no para fora do carro e o roubaram. A polícia também enfatizou que os ferimentos dos jovens foram causados pela queda durante a tentativa de fuga, negando qualquer agressão. O soldado Vianna ainda disse que feriu um dos braços ao cair na perseguição.

Versão de Lucas e Rafael

Os jovens teriam confessado o crime durante o depoimento na delegacia. Segundo o boletim de ocorrência (B.O.), os estudantes informaram que iriam vender o carro roubado a um desmanche por R$ 1.400, o que daria R$ 700 para cada.

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Sobre o assalto, Lucas teria assumido a direção do veículo, enquanto Rafael ocupou o banco do passageiro. Eles não souberam informar o nome da terceira pessoa, que teria participado da ação e portava uma arma de fogo. Ele teria entrado no banco traseiro do Onix.

À Polícia Civil, eles corroboraram a versão dos PMs e afirmaram que caíram durante a fuga. Depois do registro do B.O., os jovens foram internados na unidade da Fundação Casa no Brás, no Centro da capital.

Relato das mães das vítimas

As famílias dos adolescentes apresentam uma versão bastante diferente dos eventos. Segundo seus relatos ao g1, após a abordagem inicial, os policiais levaram Lucas e Rafael para uma rua deserta, próximo a uma praça, onde os agrediram e os ameaçaram de morte para forçá-los a confessar o crime.

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Lucas contou que teve o braço queimado com um cigarro, e ambas as mães relataram que seus filhos estavam visivelmente machucados e traumatizados quando os encontraram na delegacia.

A mãe de Lucas descreveu que ele estava com o rosto machucado e o pescoço com marcas de estrangulamento. “Meu filho me disse que foi coagido a confessar algo que ele não fez. Eles [os policiais] o ameaçaram e o agrediram”, disse. Rafael também relatou ter sido ameaçado de morte se não confessasse o crime.

A mãe de Rafael na delegacia, notou algo de estranho. “Ele estava no porta-mala com o Lucas. Rafael com o rosto todo machucado. O policial deu um murro na cara dele. O pescoço todo vermelho, porque ele enforcou Rafael”, descreve.

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Rafael só teria contato que não roubou o veículo após estar internado na Fundação Casa. Durante o registro do B.O., os policiais o levaram até um pronto-socorro da região. No trajeto, o adolescente contou à mãe que recebeu novas ameaças: “Se vocês não falarem o que a gente falou, a gente vai matar você e seu amigo, e jogar lá atrás no rio”.

Advogado da vítima

O advogado de defesa, Daniel Rosário, identificou várias inconsistências nos depoimentos dos policiais e diz que houve, sim, tortura. Imagens de câmeras de segurança mostram os adolescentes sendo abordados enquanto caminhavam tranquilamente, sem qualquer sinal de perseguição. Além disso, as lesões nos jovens, como queimaduras, não correspondem a ferimentos típicos de uma queda.

Rosário já solicitou à Justiça o acesso às imagens das câmeras corporais dos policiais e ao GPS da viatura para verificar a movimentação e as ações dos oficiais durante o incidente. A Defensoria Pública de São Paulo, que representa Rafael, está acompanhando o caso, embora não tenha se manifestado oficialmente devido ao segredo de Justiça.

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Traumas e medos

As mães dos adolescentes expressaram profunda preocupação com a segurança de seus filhos e afirmaram que a experiência deixou marcas psicológicas nos jovens. Elas relataram que os filhos estão traumatizados e temem represálias dos policiais. Por segurança, as famílias decidiram não permitir que os adolescentes andem sozinhos nas ruas.

A mãe de Lucas enfatizou: “Meu filho nunca deu sinais de envolvimento com crimes. Ele foi coagido a confessar algo que não fez. Acredito que, por morarmos na periferia, somos discriminados e tratados como criminosos”. Esse sentimento de discriminação é compartilhado por muitas famílias na periferia, que se sentem constantemente sob suspeita por parte das autoridades.

Resposta da Secretaria da Segurança Pública

“Os dois infratores, de 14 anos, foram apreendidos após serem flagrados com um carro roubado na noite de 16 de maio, no Jardim Rodolfo Pirani. Ao verem a polícia, os dois saíram do veículo e tentaram fugir a pé, mas foram detidos. Questionada, a dupla confessou o crime e, na delegacia, foi reconhecida pela vítima-um homem, de 60 anos, que inclusive descreveu a conduta de cada um na ação criminosa. O caso foi registrado no 49º Distrito Policial. O veículo passou por perícia e foi devolvido à vítima. Exames de corpo de delito foram realizados nos adolescentes e os resultados dos laudos, encaminhados à Vara da Infância e Juventude, que prosseguirá com as apurações relativas ao caso. A Polícia Militar é uma instituição legalista e mantém sua Corregedoria à disposição para registrar e apurar qualquer denúncia contra seus agentes”.

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