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Cotidiano
O percentual de intenções de voto em Bolsonaro no grupo dos que recebem benefícios do governo cresceu
25/03/2022 às 09:47 atualizado em 25/03/2022 às 09:52
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Auxílio Brasil | Marcello Casal Jr/Agência Brasil
As medidas do governo Jair Bolsonaro para a camada mais pobre da população surtiram efeito e o presidente reduziu em oito pontos (de 40 para 32) sua desvantagem em relação a Luiz Inácio Lula da Silva no maior grupo de eleitores: os que ganham até dois salários mínimos e que representam 53% do eleitorado na amostra do Datafolha.
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Embora a pesquisa Datafolha atual não seja diretamente comparável ao levantamento feito em dezembro por conter cenários diferentes (em que foram retirados alguns nomes na disputa e acrescentados outros, todos com pontuações quase irrelevantes), ela sinaliza como o eleitor mais pobre se comporta.
Entre a pesquisa de dezembro e agora, as intenções de voto em Bolsonaro nesse grupo, crucial para decidir a eleição, eram de 16% e são agora de 19%. Na contramão, as em Lula eram de 56% estão em 51% -ambas variações fora da margem de erro.
O movimento nesse estrato enorme de eleitores explica a brusca diminuição da vantagem de Lula sobre Bolsonaro entre as duas pesquisas (de novo, não totalmente comparáveis). Nas intenções de votos totais (todos os grupos), a liderança do petista sobre o presidente encurtou nove pontos, de 26 em dezembro para 17 pontos agora.
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Entre as ações já adotadas pelo governo Bolsonaro ou em curso, o Auxílio Brasil é a mais potente. São quase R$ 90 bilhões distribuídos no ano eleitoral a 18 milhões de pessoas vulneráveis e que estão entre as que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.424).
Elas receberão R$ 400 mensalmente até dois meses após o segundo turno, quando o valor deve cair à metade –uma novidade em se tratando de programa de complementação de renda e que nunca foi adotada no Bolsa Família.
Ainda na base da pirâmide, o governo anunciou o abatimento de 92% no valor das dívidas do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) para estudantes inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).
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A estimativa é que mais de meio milhão de pessoas se beneficiem. Para as demais, haverá outros abatimentos, e as dívidas serão parceladas em até 150 vezes.
Em outra frente, pelo terceiro ano consecutivo o governo antecipou o 13º dos benefícios do INSS e permitirá saques de até R$ 1.000 no FGTS, medida que pode injetar até R$ 30 bilhões na economia. Há ainda cortes de impostos em milhares de produtos.
Para Alexandre Rands, economista e presidente da consultoria Datamétrica, do Recife, esse conjunto de medidas tende a continuar favorecendo Bolsonaro principalmente no Nordeste, segundo maior colégio eleitoral do país e onde há maior concentração de eleitores pobres.
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"O impacto é muito grande no interior e nas periferias das grandes cidades. Não surpreenderá se Bolsonaro anunciar durante a campanha que, se eleito, manterá o Auxílio Brasil de R$ 400", diz Rands.
Embora a maioria dos atuais governadores do Nordeste sejam favoráveis a Lula (em PE, BA, PI, MA, CE e RN), Rands ressalta que políticos nordestinos (deputados, prefeitos e vereadores) têm perfil conservador e governista, no sentido de dependerem de verbas federais.
"Se houver um estreitamento da diferença entre o presidente e Lula, não descartaria uma avalanche de conversão pró Bolsonaro no Nordeste", afirma.
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Para o diretor da FGV Social, Marcelo Neri, o formato "retrátil" escolhido por Bolsonaro para o Auxílio Brasil seria um "populismo versão 2.0" que promete resultados eleitorais.
"O governo está jogando tudo o que tem e inovando, no mau sentido. É como se estivesse distribuindo a velha cesta básica do clássico voto de cabresto, para deixar de dar o benefício após a campanha", diz Neri.
Nesse contexto, a maior crítica ao formato do Auxílio Brasil é que ele desmonta a lógica consolidada de programas sociais focalizados: dar mais a quem tem menos. "Os R$ 400 distribuídos de modo igual acabam funcionado como um maravilhoso outdoor de campanha."
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Para especialistas em contas públicas, no entanto, são os cortes ou isenção de impostos adotados neste ano eleitoral que trazem maior risco para o futuro da economia e o próximo presidente.
Nesse sentido, Bolsonaro decretou corte linear de 25% na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em fevereiro e nesta semana zerou o imposto de importação do etanol e de seis produtos da cesta básica (café, margarina, queijo, macarrão, açúcar e óleo de soja) até o fim do ano.
Aqui, novamente, o governo deixou de aplicar o princípio da focalização nos mais pobres, já que os mais ricos também poderão comprar automóveis e queijos pagando menos impostos. Essas e outras medidas em preparação podem ter custo aproximado de R$ 50 bilhões para União, estados e municípios em 2022.
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Daniel Couri, economista da IFI (Instituição Fiscal Independente), ligada ao Senado, lembra que, ao abrir mão de receitas em um ano eleitoral com perspectiva de baixo ou nenhum crescimento econômico, o país semeia um 2023 difícil para o equilíbrio das contas públicas.
"Muito do dinheiro sendo gasto agora pelo governo federal, assim como nos estados, é resultado da inflação, que faz a arrecadação subir à frente das despesas. Mas isso só funciona se a inflação for sempre crescente", afirma.
Couri lembra que o governo federal aprovou no Congresso a Lei de Diretrizes Orçamentárias deste ano com um déficit de R$ 170 bilhões, sendo que o Ministério da Economia trabalha com projeção pouco superior a R$ 70 bilhões (a da IFI é de R$ 100 bilhões).
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"Com isso, o governo ficou com margem grande para adotar medidas no ano eleitoral. Como o teto de gastos limita o aumento da despesa, a saída tem sido fazer política fiscal expansionista com redução de receitas [de impostos]", diz.
Para Silvia Matos, coordenadora do boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, essas medidas tendem a gerar uma "ressaca" em 2023, com mais pressão sobre as contas públicas e a inflação futura. Pois, quando a tributação voltar, ela será reincorporada aos preços.
Ela avalia que, com tantas medidas de estímulo, o trabalho do Banco Central de subir a Selic para controlar a inflação equivale a "enxugar gelo". Por conta da escalada na taxa básica, o Brasil deve pagar cerca de R$ 900 bilhões de juros neste ano, o dobro de 2021.
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Mas Matos considera difícil que, num quadro de baixíssimo crescimento e inflação alta como o atual, essas medidas sustentem a renda dos brasileiros –e o súbito aumento da competitividade eleitoral de Bolsonaro.
"Uma coisa é um cenário de preços em alta com crescimento econômico. Outra, uma economia parada, em que a renda do trabalhador já teve queda muito forte, não reage e é corroída todos os meses pela inflação num ambiente de alto desemprego", afirma.
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