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Cotidiano

Ação policial e dispersão da cracolândia afetam mercado imobiliário no centro de SP

Corretora na região há 22 anos, Marina Varom, 57, diz que o aplicativo da imobiliária em que trabalha parou de receber mensagens

30/05/2022 às 10:06  atualizado em 30/05/2022 às 10:10

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Região da cracolândia

Região da cracolândia | Danilo Verpa/Folhapress

À espera de um comprador para seu apartamento há oito meses, o ator Marcelo Mendes, 49, já tinha o contrato de venda assinado quando a cracolândia se instalou na sua rua, no bairro dos Campos Elíseos, região central de São Paulo, no último dia 19.

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Ele conta que só faltava seu advogado avaliar o documento para ele fechar o negócio. "No dia seguinte, a minha rua foi invadida", diz. "O comprador mora na avenida Duque de Caxias e via da janela tudo que estava acontecendo. Me ligou e disse que ia desfazer o negócio", conta.


As ações policiais que tiveram início no último dia 11 na praça Princesa Isabel, também no centro da cidade, espalharam os usuários de drogas pelas ruas da região e paralisaram o mercado imobiliário nos bairros de Campos Elíseos e Santa Cecília, os mais afetados.


Há pouco mais de uma semana, a concentração de usuários passou a ocupar o quarteirão na esquina da rua Helvétia e da avenida São João. Na última sexta (27), uma nova operação para esvaziar a rua resultou na prisão de ao menos seis pessoas. A Prefeitura de São Paulo planeja instalar câmeras e cortar árvores que dificultam o monitoramento dos traficantes que atuam no local.

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Corretora na região há 22 anos, Marina Varom, 57, diz que o aplicativo da imobiliária em que trabalha parou de receber mensagens de clientes. "Não temos nenhuma procura. Está totalmente parado", diz.


Desde o início das operações da polícia, moradores de prédios da região reclamam de aumento de furtos e roubos na vizinhança, além de maior sujeira nas ruas.


Na última quarta-feira (25), os moradores se reuniram com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) para cobrar uma solução. Foi combinada a retomada da rotina de limpezas diárias na cracolândia, como acontecia quando os usuários estavam acampados na praça Julio Prestes. Foi prometido também reforço do efetivo da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

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A chegada da cracolândia fez a professora Carolina Torres, 25, cancelar mais de dez reservas de uma plataforma de hospedagem nos dois apartamentos da família localizados na rua Helvétia. Ela calcula um prejuízo de R$ 5.000, porque havia reformado um dos imóveis recentemente.


"Liguei para cada pessoa para oferecer o reembolso", diz. "Se uma delas escreve na avaliação que o apartamento fica dentro da cracolândia, eu nunca mais ia conseguir alugar para mais ninguém."


O enfermeiro Newton Viana de Oliveira, 49, morador da rua Doutor Frederico Steidel, que chegou a ser ocupada pela cracolândia por alguns dias, conta que perdeu um inquilino que estava prestes a alugar uma das suítes da sua casa. "Ele é de fora de São Paulo, se assustou com a situação e desistiu do aluguel", conta.

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O plano, até então longínquo, de vender a casa se tornou urgente. "Quero sair daqui de qualquer jeito", diz. Ele conta estar pensado em erguer um muro em frente à casa como medida de segurança.


Durante a operação policial que expulsou os usuários da Doutor Frederico Steidel, no último dia 19, o quintal do enfermeiro foi invadido por usuários de drogas tentavam fugir da polícia.


Sem perspectiva de vender seu apartamento, o ator Marcelo Mendes conta que irá adiar o projeto de equipar um trailer para viajar pelo Brasil e pela América do Sul. "Eu vivi a minha vida inteira no centro de São Paulo e nunca vi um cenário tão crítico. Não tenho mais como sair à noite da minha casa", lamenta.

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Além da reclamação de moradores, voluntários e entidades sociais que atuam na região também dizem que o espalhamento de usuários dificulta o trabalho de assistência.


Em documento apresentado à prefeitura depois da megaoperação que esvaziou a praça Princesa Isabel no dia 11, a Associação Comunitária São Mateus, contratada pela gestão Ricardo Nunes e responsável pelo Seas (Serviço Especializado de Abordagem Social) na região, declarou que "a ação dificulta o acesso a essa população elevando sua migração a outros territórios".


Procuradas pela Folha, tanto a gestão municipal quanto a estadual defenderam a operação policial e afirmaram que o número de atendimentos aumentou desde que ela foi realizada.

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Em evento na última quarta, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), afirmou que as operações policiais vão continuar. De acordo com o governador, a Polícia Civil tem realizado "um grande processo de investigação com muitas prisões efetuadas e outras em andamento".


"Novas operações policiais vão ocorrer", afirmou ele.

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