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Cotidiano
O Copom mantém a Selic no atual patamar desde setembro de 2022, quando interrompeu um ciclo de 12 altas consecutivas
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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) | Lula Marques/ Agência Brasil
"Quero saber de que serviu a independência do Banco Central", "é só ler a carta do Copom para a gente ver que é uma vergonha esse aumento de juros", "precisa cuidar da política monetária, mas precisa cuidar também do emprego, da inflação e da renda do povo."
Nos primeiros meses de seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) tem feito duras críticas, como essas, ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por manter a Selic, a taxa básica de juros, em 13,75% ao ano.
O Copom mantém a Selic no atual patamar desde setembro de 2022, quando interrompeu um ciclo de 12 altas consecutivas.
Sob o argumento de controlar a inflação e trazê-la para a meta, Campos Neto tem dito que as decisões do BC são técnicas e baseadas nas expectativas de inflação futura.
Em entrevistas e discursos desde que tomou posse, Lula tem rebatido a autoridade monetária, autônoma desde 2021, apontando que os juros no Brasil não conseguem atacar uma inflação que não é ocasionada pelo aumento de demanda e ainda freiam o crescimento econômico.
Nesse cenário, o Datafolha perguntou aos brasileiros, nos dias 29 e 30 de março, como eles avaliam o patamar atual da Selic.
Os questionamentos do presidente parecem encontrar eco na população. Para 71% dos entrevistados, a taxa de juros está mais alta do que deveria. Entre os que pensam assim, 55% dizem que ela muito mais alta do que deveria, e apenas 16% consideram que está um pouco mais alta.
Mesmo entre os eleitores do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que indicou Campos Neto para o BC, a percepção de que os juros estão mais altos do que o recomendado é de 77%. Entre as regiões do país, essa opinião só fica abaixo dos 70% no Nordeste (67%).
Já 17% dos brasileiros dizem crer que os juros básicos estão em um patamar adequado, somente 5% responderam que ela está mais baixa do que deveria, e 6% não souberam responder.
Especificamente sobre a pressão feita por Lula pela redução dos juros, a pesquisa também apontou que 80% dos entrevistados dizem considerar que o presidente está agindo bem. Para 16%, o mandatário age mal, e 5% não souberam responder.
O apoio ao presidente Lula nesde tópico é maior entre os brasileiros que recebem até dois salários mínimos (R$ 2.604), faixa em que 85% dizem concordar com o petista.
Também é assim entre aqueles com até o ensino fundamental (84%), os desempregados e que estão sem procurar emprego (91%) e os que se declaram pretos (84%).
Entre os que têm ensino superior, 24% afirmam que Lula age mal ao pressionar o BC; entre os empresários, 28%; entre os que se declaram brancos, 19%.
"Dizer que a taxa de juros deveria estar em 26,5% para cumprir a meta de inflação, como fez o presidente do BC, mostra o tamanho da besteira que eles fizeram lá atrás", diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-diretor do Banco Central.
Para Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, a discussão sobre os rumos da economia refletem as diferenças entre o Brasil que Lula encontrou ao tomar posse em 2003 e agora, em 2023.
"Há uma pressão inflacionária, mas estamos com uma política monetária alucinada do ponto de vista do crescimento. A sociedade espera respostas imediatas do governo, e, claramente, o BC tem uma resposta diferente. Como resultado, o país está com um freio na economia como nenhum outro."
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