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Cotidiano

Processo de tombamento de igrejas do Largo São Francisco dura 60 anos

Em acordo celebrado no último mês, o Iphan concordou em concluir até o ano que vem o processo de tombamento das duas igrejas, a Igreja de São Francisco de Assis (que tem 372 anos) e a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco (de 231), cujos process

29/09/2019 às 13:22

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Em janeiro de 1959, o fotógrafo Edgard Jacintho, conhecido pelos registros do patrimônio histórico, sugeriu que se tombasse uma igreja no Largo São Francisco, no centro de São Paulo, a fim de preservá-la.

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Sessenta anos depois, esse processo de tombamento, conduzido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), ainda não foi concluído.

A demora foi parar na Justiça, envolveu MPF (Ministério Público Federal) e finalmente deve ter um desfecho.

Em acordo celebrado no último mês, o Iphan concordou em concluir até o ano que vem o processo de tombamento das duas igrejas, a Igreja de São Francisco de Assis (que tem 372 anos) e a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco (de 231), cujos processos se arrastavam havia décadas.

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Os templos ficam um ao lado do outro no Largo São Francisco, juntos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, e ajudam a compor a paisagem do centro histórico da cidade.

As igrejas não corriam risco de serem derrubadas, já que já eram tombadas pelo órgão de preservação estadual (Condephaat) e municipal (Conpresp).

Mas, para o MPF, o atraso de 60 anos é "evidente e gravosa morosidade", "injustificadamente extrapolando qualquer limite de razoabilidade na duração de um processo administrativo".

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O tombamento, na verdade, ficou praticamente parado de 1959 a 2012, quando, depois de mais de 50 anos, o Iphan encaminhou para instrução.

À reportagem, o órgão federal do patrimônio disse que não poderia comentar a decisão judicial especificamente.

Falando de modo geral, o diretor do Departamento de Patrimônio Material do Iphan, Andrey Rosenthal Schlee, elenca três fatores para que um processo de tombamento demore mais que seis décadas.

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Primeiro, diz ele, o fato de o Iphan aceitar pedidos de tombamento que são nada mais do que listas de nomes.

"Bastava dar o nome de um bem e o Iphan é que teria que identificar o conjunto de valores que deveriam justificar o tombamento e isso leva tempo", afirma.

"O Iphan sempre aceitou esse tipo de pedido, o que nos gerou um passivo de processos muito grande."

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Em segundo lugar, diz, há uma hierarquização de bens que correm risco de desaparecer se não forem tombados, o que não é o caso das igrejas do Largo São Francisco.

"São igrejas que estão em uso, que têm cultos, e que portanto não correm nenhum risco. O fato de um processo de tombamento estar aberto desde 1950 não significa que elas correm um risco de desaparecer. Muito pelo contrário, só demonstra que a população paulista tem esses bens em tão boa conta e referência que os mantém e os preserva."

Por fim, Schlee afirma que há poucos funcionários para analisar todos os processos.

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O diretor afirma que a média de permanência de um processo aberto no Iphan é de cinco anos hoje, e que hoje há cerca de 300 casos abertos.

Schlee ressalta que, segundo a Constituição, a atribuição de preservar o patrimônio é concorrente a estados, município e União, e que se o bem é tombado já por alguma instância o Iphan cumpre sua missão constitucional.

"O que nós temos como obrigação é responder a um pedido e fechar o processo administrativo."

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Já há, no entanto, dois pareceres técnicos do Iphan que pedem os tombamentos, um de 2015 e outro deste ano.

IMPORTÂNCIA HISTÓRICA

A Ordem de São Francisco é uma vertente católica cujos primeiros padres chegaram ao Brasil ainda no século 16.
O primeiro convento franciscano na cidade foi erguido onde hoje é a praça do Patriarca, em 1639.

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Três anos depois, a Câmara de São Paulo doou um terreno "com 80 braças [176 m] de largura, por 70 braças [154 m] de comprimento, num local aprazível, com três fontes, uma pedreira e, ao fundo, o rio Anhangabaú", diz documento de 1981 que tombou a igreja no patrimônio estadual.

Lá foi inaugurada, em setembro de 1647, a atual sede do convento, ocupando todo o espaço onde hoje está a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. A obra foi feita em taipa de pilão, espécie de barro comprimido usado à época, em estilo jesuítico.

Em 1676, começa-se a construir lá a capela da Ordem Terceira. Um século depois, em 1788, a capela se "emancipa" e vira uma igreja independente, a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco.

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Também em taipa de pilão, sua fachada foi adornada por Tebas, arquiteto escravizado que também assina as fachadas de outras igrejas importantes da cidade, como a Catedral da Sé, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo e o Mosteiro de São Bento.

As duas passaram por obras de restauro recentemente e estão em bom estado de conservação e abertas ao público.

O convento de São Francisco virou, em 1828, a Academia de Direito de São Paulo (depois incorporada pela USP). Em 1933, o edifício que foi demolido para construir o atual prédio do curso.

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Outrora luxuosa, hoje a região é degradada e está no foco da prefeitura. Faz parte do chamado triângulo histórico, onde a gestão Bruno Covas (PSDB) quer reformar calçadas, melhorar iluminação e oferecer incentivos fiscais para donos de negócios na região.

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