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Cotidiano

40% dos brasileiros afirmam ter medo de julgamento das redes sociais

Foram entrevistadas, de forma presencial, 2.098 pessoas a partir de 16 anos, de todas as classes econômicas, em 130 municípios do País

Leonardo Sandre

15/09/2022 às 14:34  atualizado em 15/09/2022 às 14:42

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O levantamento, realizado no mês passado, mostra que 65% dos entrevistados se sentem pressionados a encarar as coisas sempre de uma forma muito positiva nas redes sociais

O levantamento, realizado no mês passado, mostra que 65% dos entrevistados se sentem pressionados a encarar as coisas sempre de uma forma muito positiva nas redes sociais | Angelica Reyes/Unsplash

Quatro a cada dez pessoas (38%) se sentem cobradas pelo conteúdo que publicam nas redes sociais e têm medo constante de serem julgadas. Um terço delas também relata muita ansiedade para saber se suas postagens serão bem aceitas ou não.

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Os dados são de uma pesquisa Datafolha sobre saúde mental do brasileiro, encomendada pela Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e pela farmacêutica Viatris.

Foram entrevistadas, de forma presencial, 2.098 pessoas a partir de 16 anos, de todas as classes econômicas, em 130 municípios que abrangem as cinco regiões socioeconômicas do Brasil. A margem de erro é dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O levantamento, realizado no mês passado, mostra que 65% dos entrevistados se sentem pressionados a encarar as coisas sempre de uma forma muito positiva nas redes sociais, mesmo quando estão com problemas.

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As mulheres (71%) e as pessoas entre 16 e 24 anos (65%) são as que mais relatam essa pressão.

"Entre os mais novos, os nativos digitais, às vezes não há o mesmo discernimento dos mais velhos de que existe uma vida dentro das redes sociais e uma outra vida fora", diz o psiquiatra Fernando Fernandes, conselheiro da Abrata.

Para 65% dos entrevistados, o fato de todo mundo parecer feliz, bonito e bem-sucedido nas redes sociais faz com que as pessoas se sintam insatisfeitas com suas vidas. As mulheres são as que mais relatam esse sentimento (69% contra 61% dos homens).

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"Vivemos numa sociedade líquida, sem garantias do agora ou do futuro. Ao mesmo tempo, na internet, as pessoas estão viajando, têm corpos, cabelos bonitos. Você vê tudo aquilo e quer também, mas a sua realidade é bem diferente", explica Carolina de Souza, 30, bacharel em direito pela PUC-MG e que acaba de lançar o livro "Suicídio e Internet" (Dialética).

De acordo com o Datafolha, 79% dos brasileiros dizem que as redes sociais podem contribuir para aumentar os problemas de saúde mental. Para 84% dos entrevistados, os haters, pessoas que julgam e propagam o ódio nas redes sociais, podem influenciar no crescimento do nível de suicídio na sociedade.

Na opinião da autora, o principal grupo de risco são crianças e adolescentes que usam as redes sem a supervisão dos pais. "A internet não tem fronteira. O conteúdo que incita o suicídio é difundido de forma mundial e muito rápida. Mesmo quando é retirado do ar, muitos jovens e adolescentes já tiveram acesso a ele."

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Carolina fala do tema suicídio com conhecimento de causa. Com menos de dez anos de idade, ela já havia tentado se matar algumas vezes. A busca pela compreensão do problema a levou a pesquisas sobre o tema e hoje é especialista em crimes cibernéticos e em educomunicação para a prevenção do suicídio.

No campo científico, ainda não há fortes evidências de que as redes sociais de uma forma geral possam aumentar o risco de transtornos mentais.

Algumas pesquisas mostram que adolescentes mais expostos aos dispositivos eletrônicos (como computador, celulares e videogames) manifestam menores níveis de autoestima, satisfação com a vida e felicidade.

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Outro dado que chama atenção na pesquisa Datafolha é o alto índice de pessoas que relatam que sofreram esgotamento e desequilíbrio mental ou que convivem com alguém que passou por essa situação.

Mais da metade das mulheres (57%) afirma ter passado por algum tipo com esgotamento mental por mais de um dia. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 63% dizem que vivenciaram situações de estresse e cansaço por mais de um dia.

"A autocobrança para dar conta de tantos papéis no dia a dia, principalmente as mulheres, pode ser um gatilho para a depressão. É preciso reduzir o tempo de acesso às redes sociais, principalmente no período da noite", afirma Marta Axthein, presidente da Abrata.

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O levantamento também revelou que 34% dos brasileiros declaram ter passado por problemas psicológicos durante a pandemia de Covid-19. No ano passado, 44% haviam relatado essas questões em outra pesquisa Datafolha.

"O motivo dessa queda pode estar relacionado a uma percepção diferente sobre os riscos à saúde, além de uma eventual melhora no ambiente econômico comparados ao momento mais agudo da Covid-19", explica o psiquiatra Fernandes.

A pesquisa faz parte da Campanha "Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da Saúde Mental é um Exercício Diário", alusiva ao Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio. A ação faz um alerta para a valorização do autocuidado em prol da saúde mental.

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