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Baseado no cruzamento de imagens de satélite, o relatório divulgado na última quarta-feira revelou a perda de 70 mil hectares à beira-mar só no período entre 1985 e 2020
29/10/2021 às 16:26
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Ressaca do mar em Santos, no litoral sul de São Paulo | Nair Bueno/DL
Um documento elaborado por cientistas da USP, pesquisadores de universidades federais, técnicos do Ibama e especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrou que as praias e dunas estão sumindo no Brasil. Baseado no cruzamento de imagens de satélite, o relatório divulgado na última quarta-feira revelou a perda de 70 mil hectares à beira-mar só no período entre 1985 e 2020. E isso representa 15% de toda área originalmente ocupada por praias e dunas em meados da década de 1980. Ou seja, a cada 12 meses, um trecho de litoral equivalente a 2.700 campos de futebol simplesmente desapareceu. A elevação no nível dos oceanos causada pelo aquecimento global, o avanço das construções à beira-mar e as contínuas dragagens portuárias são responsáveis pela redução da faixa de areia. Segundo o MapBiomas, o Rio de Janeiro foi o estado mais prejudicado, com a perda de 49% de sua faixa litorânea.
Os dados revelados agora pelas imagens de satélite confirmaram estudos divulgados no início deste século pelo Instituto Geológico de São Paulo, que já indicavam o avanço do mar sobre 20 praias espalhadas pelos 600 quilômetros do Litoral Paulista. Conforme revelou o Repórter da Terra em 26 de novembro de 2006, em A Tribuna, a diminuição na faixa de areia começava a ficar evidente na Ponta da Praia, em Santos, e no Gonzaguinha, em São Vicente. O fenômeno também já atingia, por exemplo, a Praia do Leste, em Iguape, no extremo sul paulista, e Tabatinga, em Caraguatatuba, próximo à divisa com o Rio de Janeiro.
Naqueles dias, o Instituto Geológico reuniu dados coletados pelos marégrafos da USP ao longo de 22 anos, e observou que o mar avançava sobre o Litoral Paulista com uma velocidade três vezes maior que a observada no resto do mundo.
A boa notícia contida no relatório do MapBiomas é que os manguezais permaneceram estáveis no País, com mais de 78% deles concentrados entre o Amapá e o Maranhão, onde estão os mais preservados e extensos manguezais do continente. O mangue serve de berçário para quase 80% dos peixes, crustáceos e moluscos consumidos pelo homem.
Segundo o MapBiomas, no Nordeste uma importante ameaça é a criação de peixes e camarões em cativeiro, atividade que cresceu 39% entre 1985 e 2020, ocupando áreas litorâneas. Já no Rio Grande do Sul dunas têm sido invadidas por pinheiros plantados em fazendas vizinhas às áreas de preservação.
O MapBiomas é a maior e mais atualizada plataforma de dados do setor no mundo. Além de pesquisadores de universidades, do Ibama e do INPE, o consórcio reúne técnicos da estatal Embrapa, especialistas da Fundação SOS Mata Atlântica e profissionais de empresas de tecnologia da informação, como o Google. A plataforma integra o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.
Filosofia do campo:
“Minha alma florescia como um áspero cactos”, Clarice Lispector (1920/1977), escritora e jornalista carioca, em ‘Morte de uma baleia’.
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