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Nilson Regalado

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Alckmin nocauteou o agro, que queria dinheiro e menos regras ambientais

Experiente e sutil, vice-presidente fez como a água, que evita o confronto, contorna as pedras e segue seu rumo

08/03/2025 às 09:25

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Governo tem ciência do impacto da inflação dos alimentos no orçamento das famílias

Governo tem ciência do impacto da inflação dos alimentos no orçamento das famílias | DIVULGAÇÃO | PMEA

Bolsonarista, o agronegócio acuou o Governo nos últimos meses, fazendo sangrar a popularidade de Lula. Nesse embate, a sociedade virou refém dos interesses econômicos e políticos do setor.

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Ciente do impacto da inflação dos alimentos no orçamento das famílias, o Governo procurou lideranças dos produtores rurais e dos supermercados em fevereiro. O objetivo era encontrar soluções para a carestia.

E, na quinta-feira pós-Carnaval, a bancada ruralista no Congresso Nacional enviou ao Governo 20 sugestões para baixar o preço dos alimentos. Os pitacos tinham a chancela de entidades que integram o Instituto Pensar Agro. Nenhuma delas, porém, citava qualquer possibilidade de redução nas margens de lucro dos fazendeiros.

Ao contrário, o agro queria que o Governo abrisse mão de impostos sobre fertilizantes, afrouxasse as exigências ambientais para concessão de crédito e aumentasse os repasses de verbas aos fazendeiros com juros subsidiados pelo Tesouro Nacional.

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Mas, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, fez como a água, que evita o confronto, contorna as pedras e segue seu rumo. Alckmin poderia ter batido de frente com o agro aumentando os impostos para a exportação. Isso tornaria os alimentos produzidos aqui menos atraentes no mercado internacional.

E, em tese, poderia aumentar a oferta interna de carnes, café, milho e soja. Mas, o também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços preferiu não prescrever essa receita, ciente de que uma fórmula parecida colocou o agro contra a esquerda argentina, solapando o projeto de poder de Cristina Kirchner.

Ao invés de taxar as exportações, Alckmin zerou os impostos de importações de milho, óleo de girassol, azeite de oliva, sardinha, biscoitos, massas alimentícias, açúcar, café e carne bovina. Esses itens pagavam entre 7,2% e 32% de tarifas de importação.

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Foi assim também, zerando alíquotas de importação, que o Governo Federal combateu a ganância dos produtores de arroz após as enchentes no Rio Grande do Sul, em maio de 2024. Desde então, os preços do arroz despencaram, atingindo patamares históricos, mesmo na entressafra.

Porém, zerar imposto de importação dessa cesta de alimentos só deve influenciar, de fato, as cotações da sardinha, do azeite e dos derivados de trigo. Nestes produtos não somos autossuficientes, ao contrário, somos grandes importadores.

Agora, no milho, na carne bovina e no açúcar somos um dos maiores exportadores no Planeta. Portanto, pode ser difícil encontrar esses produtos no mercado internacional para suprir o mercado interno.

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No café, somos o maior produtor e também o maior exportador do mundo. Pior, grandes produtores como Vietnã e Indonésia tiveram quebras dramáticas em suas colheitas e reduziram exportações.

Mais: acompanhado pelo presidente Lula e pelos ministros da Casa Civil, Rui Costa, da Agricultura, Carlos Fávaro, da Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, e da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, Alckmin deu a senha para o Governo Federal reconstruir os estoques reguladores.

Adotada no começo do século 20, essa política pública tem o poder de controlar a inflação e evitar desabastecimento em momentos de quebra de safra. Mas, ela foi destruída nos governos Temer (2016/2018) e Bolsonaro (2019/2022), que zeraram os armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) alimentando, com isso, a ganância dos fazendeiros, que ficaram livres da concorrência dos estoques reguladores do Governo.

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Agro chantageava por dinheiro...
Com viés político-ideológico, o documento entregue ao Governo nesta semana pelos fazendeiros pregava nas entrelinhas a redução de gastos com programas sociais, ignorando o aumento nos custos do Governo com o pagamento de juros a cada alta da taxa Selic.

...com juro subsidiado e...
Só na safra 2024/25 o Governo Federal disponibilizou R$ 500 bilhões para financiar a agricultura empresarial, quase 10% a mais que na safra anterior. E as taxas de juros foram de apenas 7% a 12% ao ano. A agricultura empresarial produz basicamente produtos exportáveis e com preços atrelados às bolsas internacionais e à cotação do dólar. Já para a agricultura familiar foram disponibilizados outros R$ 43 bilhões. Estimativas apontam que cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são produzidos nessas pequenas propriedades rurais.

...redução de regras ambientais
O conjunto de sugestões citava “um desafio econômico que precisa ser enfrentado com políticas estruturais para reduzir custos” para o setor, com a ampliação dos investimentos públicos em estradas vicinais usadas para o escoamento das safras. A longo prazo, porém, o documento acertava ao propor a valorização do transporte por ferrovias e hidrovias a fim de reduzir o custo com o frete rodoviário. Os ruralistas também pregavam a ampliação da capacidade de armazenagem. O documento também propôs a “redução do desperdício de alimentos, reavaliando normas de validade e incentivando programas de aproveitamento de produtos próprios para consumo”.

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Filosofia do campo:
“Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras”, Manoel de Barros (1916/2014), pecuarista e poeta mato-grossense.

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