Assim como foi no Flamengo, Dorival Júnior esboça um bom início de trabalho no São Paulo. Foram cinco jogos até aqui, com três vitórias e dois empates, e o mais impressionante: apenas um gol sofrido.

Um treinador precisa de tempo de trabalho para provar seu valor, isso é fato. Com apenas cinco partidas é claro que Dorival ainda não conseguiu dar totalmente sua cara para o time do São Paulo, mas, já demonstra importantes mudanças, o principal deles: menos cruzamentos.

Cruzamentos

O time de Rogério Ceni colecionava cruzamentos, fosse o jogo dentro ou fora de casa, contra um time mais forte ou mais fraco. Algumas partidas batiam até mesmo a casa de, pasmem, 40 cruzamentos. Com Dorival essa média despencou. Em média, o Tricolor Paulista cruza agora em torno de 11 bolas por jogo, uma diferença gritante.

Questionado na entrevista, o comandante ressaltou que a mudança não é por acaso. O estilo de jogo do técnico condiz mais com trocas de passe pela faixa central do ataque, e menos as faixas laterais ao fundo. 

Ou seja, agora, quando o time sofre, não é mais por inúmeros cruzamentos sem objetivos para a área, mas sim pela falta de articulação de seu setor ofensivo. Assim como quando o time sobra, vemos mais infiltrações e os meias participando mais da partida.

A defesa

O sistema defensivo, em números, nem era um grande problema para o time sob o comando de Ceni, mas melhorou muito mais com a chegada do novo professor. O sistema não é perfeito, longe disso, mas tem seus motivos para apresentar essa melhora significativa.

Rafael: cresceu consideravelmente seu desempenho, com ótimas atuações contra América-MG, e até mesmo no último domingo, contra o Internacional. Um goleiro que se mostra mais seguro, com boa liderança, e que com a confiança em alta, tem garantido boa média para o sistema defensivo.

A dupla de zaga titular: a dupla "BerArbo", formada por Beraldo e Arboleda, vêm jogando muito bem. Para o equatoriano não é nenhuma novidade, Arboleda sempre foi um excelente zagueiro, e para mim, ocupa o posto de segundo melhor da posição no Brasil (atrás apenas de Gustavo Gómez, do Palmeiras).

Na grande fase de Fernando Diniz no São Paulo, Arboleda chegou a ser banco em alguns jogos mas depois recuperou a posição, e quando era ausência, o time sofria. Um bom exemplo é o jogo contra o mesmo Internacional, no Morumbi. O tricolor perdeu de goleada em casa, sofrendo um vergonhoso 5x1, e Arboleda foi desfalque. A dupla em questão foi Léo e Bruno Alves. Outra amostra é o de sua lesão na temporada passada. O time vinha em uma crescente quando ele se lesionou, e sua importância ficou muito evidente na final da Sul-Americana, quando sem ele, o time do Morumbi sofreu com o ataque do Del Valle. Robert Arboleda é veloz e quase perfeito no jogo aéreo. Sua maior dificuldade talvez seja na condução de bola para armação de jogo pressionado pelo ataque rival.

Lucas Beraldo tem apenas 19 anos, mas joga um futebol de veterano. Destaque na base de Cotia e também da seleção brasileiro, o jovem xerife vem se mostrando ser muito confiável. Ainda exagera bastante nas bolas longas, é verdade, mas quando as acerta, cria grandes chances de gol. Não é veloz como seu parceito de zaga, mas tem uma qualidade rara para os atletas de sua posição, é muito técnico. Tem enorme calma para desarmar os adversários e sair jogando, e ainda tem muito a evoluir.

Sistema

Além disso, o sistema defensivo melhorou por um motivo simples: a escalação. Se para Rogério Ceni dois homens de primeira volância não podiam atuar juntos, para Dorival Júnior isso não é problema. Enquanto Ceni via Rodrigo Nestor como seu segundo volante, Dorival adianta mais o jovem para jogar como um meia, colocando dois volantes bons de marcação mais atrás.

Nestor não é homem de marcação, seu físico já deixa isso visível. Franzino, o camisa 11 tricolor tem ótima visão de jogo para o último passe. Não é em marcar o articulador do time rival que ele deve se preocupar, mas sim na criação do seu próprio time.

Pablo Maia cresceu de rendimento com Dorival neste início e mostra que pode ser peça-chave para o professor. marcando bem, e ajudando a sair pro jogo, o volante marcou um golaço em belo chute de fora da área no último jogo. 

Gabriel Neves parece ser a dupla ideal para Pablo. Ainda recuperando 100% de sua forma, o uruguaio agrada bastante em sua entrega e seu alto índice de acerto de passes. Luan ganhou mais chances, mas ainda está visivelmente fora da forma ideal. Méndez quase não atuou, mas é outra opção. Com dois homens de marcação juntos, a zaga fica menos exposta. Um exemplo disso: contra o Ituano, na Copa do Brasil, o São Paulo sequer sofreu finalizações ao seu gol até praticamente abrir o placar, já no seu segundo tempo.

Rogério Ceni não era o culpado. Fazia um bom trabalho se formos considerar a bagunça e sucessivos erros que a gestão Casares-Belmonte cometem nos bastidores do futebol. Ceni era o escudo para os erros da diretoria, e caiu por lutar pelo seu clube de coração. Mas como qualquer treinador, cometia erros, e Dorival tem os arrumado pouco a pouco. Escalar o ponta na ponta e o meia no meio-campo parece simples, mas é só com o novo comando que isso está sendo feito.