O técnico Tite, atualmente no Flamengo, transformou em rotina aproveitar as coletivas pós-jogos para reclamar do calendário brasileiro, virou o tal do "fala muito". E é importante frisar que o método de distribuição de jogos por dias de descanso é realmente mal feita.

Mas, o que fazer para resolver? Dorival Júnior acabou de assumir o comando do cargo de novo técnico da seleção brasileira, pouco deve poder fazer para mudar o calendário, a não ser propor um início de estudos para mudança. O que o Tite poderia ter feito nos últimos anos, então, era se sentar com o treinador que ficou por seis anos como o comandante da Amarelinha.

Por que Adenor não se sentou e propôs a mudança com o antigo técnico? Verdade, o treinador em questão era ele próprio. Ou seja, após ficar no comando das convocações e treinamentos da seleção brasileira de 2016 até 2022, convocando jogadores que atuam no Brasil, desfalcando clubes, e sem vir a público com uma proposta de mudança no calendário, agora o Tite decidiu reclamar.

Estando desta vez do outro lado da moeda, o treinador rubro-negro apontou os desfalques durante a Copa América (em que, bisonhamente, o Campeonato Brasileiro seguiu normalmente) e repete toda vez que pode que os jogos estão muito próximos uns dos outros e isso aumenta o risco de lesão.

Outro detalhe importante é que Tite é treinador do Flamengo, o elenco mais caro do continente. Um clube que se preparou esportiva e financeiramente para ter times A e B bem preparados. Dorival, inclusive, conquistou a Libertadores e Copa do Brasil com o Flamengo, enquanto fez uma boa campanha no Brasileirão com o "time alternativo".

Tite é, ao lado de Abel Ferreira, o melhor treinador em cenário nacional, mas deveria começar a agir como tal durante as coletivas. Parar de terceirizar a culpa, assumir as escolhas e lamentar as lesões. Botafogo teve Júnior Santos lesionado, Palmeiras perdeu Dudu por quase um ano, São Paulo perdeu sua dupla de volantes titular (Pablo Maia e Alisson), o Flamengo não está sozinho nessa, o calendário prejudica a todos.

Em campo, o trabalho tem saldo positivo. Campeão carioca, encaminhado para as quartas da Libertadores e vivo na Copa do Brasil após eliminar o Palmeiras. No Brasileirão, mesmo patinando, está perto dos líderes. O fato do Flamengo ter perdido todos os títulos que disputou no ano passado pesa para que esse ano seja diferente. Mas é a competência e eficácia dentro de campo que vai definir isso, e não coletivas repetitivas do treinador.

O calendário precisa mudar, isso é fato. Mas o que será que Tite propôs enquanto treinador do selecionado nacional? Ali também via e se incomodava, ou como não era com ele, tanto faz? Como o próprio treinador diz, cada dia a mais, é um dia a menos, então não deveria ter passado seis anos na CBF para só reclamar agora. Tomar quatro gols e perder de goleada em um clássico é culpa, antes de tudo, do próprio trabalho.