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Pode haver cadeirada, bancada, soco na cara, queixa nas delegacias de polícia e tudo aquilo que não faz parte de uma escolha democrática, em que cada um tem o direito de votar e apoiar quem quiser
18/10/2024 às 20:30
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Afinal, o Brasil é um país aberto votar diretamente em um prefeito de capital é uma conquista que leva tempo e só é possível na medida em que o governo militar autoritário perde força | Fernando Frazão/Agência Brasil
A eleição para a prefeitura de São Paulo está polarizada. A população se divide, não em partidos políticos, mas em torcidas organizadas.
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Com uniforme e tudo oferecido pelos partidos. As camisetas ostentam o nome dos candidatos e são exibidas com orgulho por um lado e outro.
A justiça eleitoral teme que as discussões cheguem àquilo que os apresentadores de programas sensacionalistas chegam, ou seja, às vias de fato.
Pode haver cadeirada, bancada, soco na cara, queixa nas delegacias de polícia e tudo aquilo que não faz parte de uma escolha democrática, em que cada um tem o direito de votar e apoiar quem quiser.
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Afinal, o Brasil é um país aberto – votar diretamente em um prefeito de capital é uma conquista que leva tempo e só é possível na medida em que o governo militar autoritário perde força.
Os santinhos são jogados na porta das escolas, locais de votação. A esperança dos candidatos desesperados é que isso possa convencer os indecisos de última hora. Quem banca os gastos da campanha nunca se sabe.
E a população pensa que saiu do bolso do candidato. As ofensas também tomam forma de caricaturas espalhadas por toda a cidade. As acusações são rotuladas de fake news. O candidato da esquerda é acusado de usar drogas, o que não é um bom exemplo para os jovens paulistanos.
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Ele não consegue reverter sua péssima imagem ao declarar em uma entrevista na televisão que não acredita em Deus. Pelo menos essa é a versão que ganha as ruas, igrejas e associações religiosas conservadoras.
Votar em um candidato comunista, drogado e ateu é destruir a família e a tradição religiosa do Brasil, diz a propaganda do candidato da direita.
Um candidato nunca disputou uma eleição municipal. O outro, já foi prefeito de São Paulo. Os institutos de pesquisa dão como certa a vitória do candidato da esquerda. A única divergência é a enquete levada ao ar diariamente pela Rádio Jovem Pan, relatada pelos repórteres, e que dá vitória para o candidato da direita.
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O governador do estado e líderes do MDB se mobilizam contra o candidato conservador, seu adversário político em eleições passadas. Os jornalistas são influenciados tanto pelos resultados das pesquisas eleitorais quanto por suas preferências pessoais.
Não poupam críticas contra o conservador e chegam mesmo à ofensa ao classificá-lo como golpista, e dependente de bom whisky maturado em barris de carvalho na Escócia.
Eleição ganha na véspera do pleito pode adiantar a pauta dos veículos de imprensa. Que tal uma foto do favorito na mesa do prefeito para ser publicada na edição da Veja de domingo???
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Diante desse quadro de vitória, Fernando Henrique Cardoso não titubeia e se deixa fotografar na mesa do prefeito. Há um acordo para ninguém publicar a foto até a proclamação do resultado.
A Folha rói a corda e publica. Na contagem final, ganha Jânio da Silva Quadros, ex-presidente da República. O mesmo renunciou ao mandato em 1961.
Ele volta, toma posse, convoca os jornalistas para o gabinete do prefeito e higieniza a cadeira e a mesa que serviram de cenário para o perdedor. Este, tempos depois, é eleito presidente da República cavalgando o Plano Real.
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