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Heródoto Barbeiro

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De olho no Banco Central

O Brasil vive há tantos anos sem a existência de um Banco Central e pode continuar existindo sem ele, dizem os mais céticos

24/06/2024 às 21:15

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As propostas de controle da inflação que são divulgadas nas campanhas presidenciais são ou inexequíveis ou simplesmente não existem

As propostas de controle da inflação que são divulgadas nas campanhas presidenciais são ou inexequíveis ou simplesmente não existem | Nathália Rosa/Unsplash

Ninguém imagina que possa ocorrer um embate entre o presidente do Brasil e o do Banco Central. O Banco Central pode influenciar os rumos econômicos e financeiros do país. Mas a indicação deve ser uma atribuição dele, assim como a nomeação de ministros do governo. Autoridade monetária é um conceito que não se encontra nem no vocabulário administrativo nem no político do país. O Brasil vive há tantos anos sem a existência de um Banco Central e pode continuar existindo sem ele, dizem os mais céticos. O Banco do Brasil faz, e muito bem, esse papel desde os tempos da fundação do Império e da República. Por que agora mudar e criar uma divisão na conduta da política econômica da nação? Este é um dos temas que frequentemente provoca reação das elites nacionais, especialmente dos banqueiros, herdeiros de instituições obtidas graças às influências das oligarquias regionais no governo federal.

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A oposição critica a proposta de um Banco Central. Causa arrepio nos partidos de esquerda a divulgação de que o Banco Central possa ter autonomia, ou até mesmo independência, como ocorre nos Estados Unidos e Europa. A acusação principal é que ele vai garantir os ganhos da elite apelidada de rentista, isto é, os que têm dinheiro e investem ou nas bolsas de valores ou na compra de títulos de dívida pública, cuja remuneração está atrelada à taxa Selic calculada pelo banco. O aumento dessas taxas é considerado um remédio para o combate à inflação, mas isso nunca foi aplicado até o presente momento. Grupos de liberais, entre eles acadêmicos, gastam papel e tempo com teses sem efeito na política do dia a dia. As propostas de controle da inflação que são divulgadas nas campanhas presidenciais são ou inexequíveis ou simplesmente não existem. Não estão ao alcance da população e, principalmente, dos eleitores.

Ele é jocosamente apelidado pela esquerda de Bob Field. Roberto Campos é visto como um aliado dos interesses do Tio Sam no Brasil por meio da abertura da economia para as grandes empresas estrangeiras. Especialmente as americanas. A esquerda faz forte oposição a ele e a sua contribuição para a fundação de um Banco Central. É uma cópia do Federal Reserve, descrevem os panfletos do partidão distribuídos nos terminais de trens e ônibus das grandes cidades brasileiras. Do outro lado, os economistas liberais, entre eles Roberto Campos, dizem que os objetivos do banco são o de garantir a estabilidade do poder de compra da moeda e solidez e eficiência do sistema financeiro. O projeto da criação do banco rola há pelo menos dez anos. O debate descamba do campo técnico para o ideológico e coloca liberais de um lado e esquerdistas de outro. As lutas eleitorais para a presidência da República empurram o projeto de mandato para mandato. Finalmente, em dezembro de 1964, o decreto presidencial assinado por Castelo Branco funda o Banco Central. No início do ano seguinte, Dênio Nogueira se torna o primeiro presidente do Banco Central do Brasil. Os grandes desafios são, entre eles, a reforma do sistema financeiro nacional. O Banco do Brasil, que ocupava essa posição desde o século 19, passa a ser um banco comercial de capital estatal e privado e deixa a função de organizar a moeda. Mas isso não garante que no futuro as influências políticas no banco não deixarão de acontecer, e novos embates já estão no radar.

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