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Cotidiano

Em bairro rico de SP, idade ao morrer é de 80 anos em média; na periferia, de 58

A diferença de 22 anos entre quem vive no Alto de Pinheiros e em Cidade Tiradentes - que ocupam respectivamente a liderança e a lanterna nesse indicador entre os 96 distritos paulistanos - sintetiza a desigualdade social na cidade

Matheus Herbert

21/10/2021 às 11:06

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A diferença de 22 anos entre quem vive no Alto de Pinheiros e 
em Cidade Tiradentes sintetiza a desigualdade social na cidade

A diferença de 22 anos entre quem vive no Alto de Pinheiros e em Cidade Tiradentes sintetiza a desigualdade social na cidade | /Anderson Lira/FramePhoto/Folhapress

No bairro de classe média alta onde mora o professor aposentado Almenor Tacla, 83, na zona oeste de São Paulo, a idade média ao morrer é de 80,9 anos. Já no extremo leste da cidade, onde vive a faxineira aposentada Jandira de Fátima Noronha, 65, o mesmo indicador é de 58,3 anos.

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A diferença de 22 anos entre quem vive no Alto de Pinheiros e em Cidade Tiradentes -que ocupam respectivamente a liderança e a lanterna nesse indicador entre os 96 distritos paulistanos- sintetiza a desigualdade social na cidade.

Os números fazem parte da edição 2021 do Mapa da Desigualdade, divulgada nesta quinta-feira (21) pela Rede Nossa São Paulo.

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De acordo com o coordenador da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, um dos pontos que mais chama a atenção no estudo é a discrepância no acesso aos serviços básicos entre as diferentes regiões da capital, como saúde, educação e moradia. Além disso, ele também destaca a incidência de mortes de jovens na cidade.

Morador do Alto de Pinheiros há mais de 40 anos, Tacla tem convênio de saúde particular e conta que costuma pedalar nas ciclovias do bairro como forma de lazer. "Utilizei várias vezes o posto de saúde do bairro, o atendimento é muito bom. Tomei as vacinas contra Covid-19 lá", diz o aposentado.

No extremo leste da cidade, Jandira conta que não teve a mesma impressão do sistema público de saúde quando foi internada para fazer uma cirurgia de emergência no Hospital Cidade Tiradentes, em 2011. "Tinha só uma médica para atender todos os pacientes, não gostei", disse ela, que mantém a rotina de participar de aulas de alongamento e tai chi chuan oferecidos por uma UBS do bairro.

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Além disso, a aposentada cita a preocupação com a violência e a rotina de pouco sono como agravantes para se morrer tão cedo em Cidade Tiradentes. "Aqui, as pessoas saem muito cedo de casa e voltam tarde. É um bairro dormitório e muito longe do centro."

O professor aposentado também acha que a violência influencia a vida no bairro. "As casas têm muros cada vez mais altos. Não há um senso de cidadania, o estilo de vida voltado para dentro dos muros."

Segundo o Mapa da Desigualdade, os bairros periféricos nos quais a idade média ao morrer não passa de 65 anos também concentram outros indicadores sociais negativos.

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O Jardim Helena, no extremo leste, onde se morre, em média, aos 63,2 anos, é o bairro onde mais pessoas dividem a mesma casa. Lá, a densidade domiciliar é de 3,3 pessoas por residência, enquanto na Consolação, na região central, esse número é de 2 moradores por endereço.

A oferta de emprego formal também é discrepante entre os bairros periféricos e os que compõem o chamado centro expandido. Ao menos 15 distritos nos extremos norte, sul e leste da cidade têm menos de uma oferta de emprego para cada dez moradores, segundo o Mapa da Desigualdade.

Já na Sé, no centro da cidade, há 112 ofertas de emprego para cada dez moradores. Nesse caso, a alta demanda é explicada pela maior presença de empresas e a baixa densidade demográfica.

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É também bem longe do centro onde há maior concentração da população preta e parda que vive em São Paulo. No Jardim Ângela, na zona sul, 60,1% da população se considera preta e parda. Também é o segundo distrito com mais domicílios em favela na cidade, 53,2%.

Em segundo lugar na lista está o Grajaú, na zona sul, com 56,8% da população preta e parda. O bairro também tem um dos menores índices de oferta de emprego formal de São Paulo.

Desigualdade digital Nesta edição, o Mapa da Desigualdade mostrou também a diferença de acesso à internet móvel nos distritos da cidade. Enquanto o Itaim Bibi, na zona oeste, possui o maior número de antenas de celular (49,8 para cada 10 mil habitantes), em Cidade Tiradentes a proporção é de apenas 1,1 antena para cada 10 mil moradores.

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O mesmo ocorre em outros bairros carentes da zona leste, como Jardim Helena, José Bonifácio, Iguatemi, Lajeado e Jardim Ângela. "O acesso digital também é um forte condicionante de desigualdade e a pandemia mostrou isso com muita força", diz Abrahão.

A falta de acesso ao sinal do celular dificulta inclusive o acesso a educação e saúde, que depende dos sistemas informatizados para atualizar os prontuários digitais. "Esse mapa traz essa questão e cabe ao poder público colocar condições para que a distribuição de antenas na cidade obedeça a equidade de acesso e não somente critérios de mercado", diz Abrahão.

Está em andamento na Câmara Municipal um projeto de lei que irá definir critérios para a instalação de antenas de telefonia celular na cidade. O projeto do Executivo foi alvo de discussão recente entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e vereadores de sua base aliada.

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Os parlamentares reclamam da falta de transparência sobre a implantação das antenas e questionam se o projeto irá contemplar as regiões periféricas da cidade, onde estão as áreas de sombra, como são chamados lugares em que há falhas de transmissão do sinal.

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