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Cotidiano

Bom Retiro: cônsul quer que bairro se transforme em 'Korea Town'

Cônsul sul-coreano pretende instalar luminárias típicas, aumentar a sensação de segurança e acrescentar Coreia ao nome da estação Tiradentes do Metrô

Bruno Hoffmann

10/08/2021 às 10:53

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Rua Aimoré, no Bom Retiro, região central de São Paulo

Rua Aimoré, no Bom Retiro, região central de São Paulo | /Reprodução/Google Street View

O sonho de transformar o Bom Retiro, na região central da cidade de São Paulo, em "Korea Town" não sai da cabeça dos sul-coreanos. O plano virou agora um projeto pelas mãos do novo cônsul-geral na cidade, Insang Hwang, que chegou ao Brasil recentemente.

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Ele pretende, com apoio das autoridades locais, pintar murais, instalar luminárias típicas, aumentar a sensação de segurança nas ruas e acrescentar Coreia ao nome da estação Tiradentes do metrô.

Não menos relevante é o interesse em uma área um pouco mais afastada das lojas de roupas. A tentativa de transformar o multicultural Bom Retiro em bairro coreano não é nova.

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Um projeto de 2010 já tratava do assunto. Em 2017, o então prefeito João Doria (PSDB), recém-eleito, tentou emplacar a "Little Seul", que seria incorporada ao nome oficial.

Na ocasião, o tucano, hoje governador, disse que contava com o apoio de empresas sul-coreanas. A ideia, porém, não foi para frente.

Segundo o cônsul-geral da Coreia do Sul, os planos agora são outros, e o dinheiro para o projeto é governamental, não da iniciativa privada. Ainda não se sabe quanto será investido, porque isso depende da adesão das autoridades brasileiras à ideia.

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"Como é um começo de projeto, um empenho que estamos fazendo, [temos que demonstrar] uma capacidade de levar à frente no decorrer do tempo", afirma o cônsul em entrevista à reportagem.

O consulado estima em 50 mil o número de coreanos que frequentam o Bom Retiro, seja como local de moradia, seja a trabalho.

A recente reportagem da revista britânica "Time Out" que destacou a rua Três Rios com uma das mais legais do mundo, justamente por ser um caldeirão cultural, serviu como mais um impulso para que o país asiático se sentisse impelido a deixar ainda mais forte a sua marca.

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Em Los Angeles (EUA), o governo sul-coreano promoveu a criação de uma "Korea Town", que é citada por Hwang como um exemplo. A ideia é marcar o Bom Retiro com a identidade visual sul-coreana. A rua Prates ganharia uma segunda placa como rua da Coreia, sem alterar a original; lâmpadas azuis e vermelhas seriam distribuídas para quem quiser colocar na frente de seu estabelecimento; murais e esculturas simbolizando o país também seriam feitos.

E os planos não param por aí. Formado em literatura alemã, Hwang cita um trecho de "Demian", do escritor Hermann Hesse, para ilustrar as primeiras impressões em relação a si próprio desde a recente chegada ao Brasil.

"A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer precisa destruir um mundo", diz o trecho, que também expressa desejo de mudança.

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No caso do Bom Retiro, essa mudança envolve a parte baixa do bairro, próxima à várzea do rio Tietê, que destoa das ruas movimentadas do comércio local.

É sobre essa área, próxima à Igreja Católica Coreana São Kim Degun, que o cônsul quer tratar com a prefeitura.

A ideia é remover dez ferros-velhos, citados em um abaixo-assinado que já conta com cerca de 4.000 nomes.

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São grandes galpões, muitos deles com aparência de abandonados, ou terrenos onde se vê pedaços de metal descartado, entre outros materiais recolhidos para a reciclagem.

Em meio a esses lugares, antigos e pequenos sobrados em vias mal conservadas, com tráfego intenso de caminhões.

"Estamos tratando com a subprefeitura, com alguns vereadores. Ao redor dessas empresas, há a Igreja Católica Coreana São Degun, e os próprios seguidores estão reclamando do mau cheiro, do barulho", afirma Hwang.

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O consulado também atrela os ferros velhos ao vaivém de dependentes químicos da vizinha cracolândia, que trocam material de reciclagem por dinheiro para comprar crack.

"A questão da segurança deve ser destacada, porque isso tem sido o maior obstáculo para o desenvolvimento local. É muito importante para que os visitantes possam ingressar no bairro", diz.

Hwang volta a citar como exemplo a "Korea Town" de Los Angeles. Ele diz que, por lá, a insegurança ficou para trás. "Há restaurantes que funcionam durante 24 horas."

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A recuperação dessas áreas próximas à várzea do Tietê e o aumento da sensação de segurança permitiriam uma expansão dos negócios. Hoje, cerca de 50% dos imóveis do Bom Retiro estão nas mãos da comunidade coreana.

Responsável por um dos locais citados no abaixo-assinado, Nailton Ferreira Bittencourt, 58, nega que o seu negócio seja um estorvo. "Não atrapalho em nada. Ao contrário, ajudo", diz. "Tiro das ruas, por dia, entre 1.500 kg e 1.800 kg de retalhos. Era um material que entupiria os bueiros", afirma de dentro de uma portinha na rua Javaés.

Segundo Bittencourt, serviços como o seu geram trabalho na região central da cidade. Ele diz que só o seu espaço de reciclagem oferece 16 vagas. "Todos registrados, tudo direitinho", afirmou.

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O projeto sul-coreano também enfrenta ceticismo. "Não dou 10 centavos furados nisso", diz o comerciante Francisco Cipriano, 66, há 48 anos no mesmo endereço.

"Se fosse para fazer, já teriam feito alguma coisa. Não estão aqui há um mês ou dois. São anos", afirma.
Mas, no geral, o plano é visto com bons olhos. "A maioria dos moradores do Bom Retiro vai ficar muito satisfeita com qualquer tipo de investimento nesse momento", afirma Roberta Tennenbaum, 39, que diz ter forte ligação afetiva com o bairro que recebeu seus bisavós judeus.

Mas ela faz uma ressalva: "Meu único medo é que, a longo prazo, a gentrificação expulse os povos com menos recursos e que se perca esse caráter multicultural", afirma.

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A cabeleireira Veronica Vargas, 29, boliviana de Santa Cruz de La Sierra, diz não ver problema na criação do bairro coreano. "Traz benefícios. Aqui fica muito escuro, vazio a partir das 18h. Se eles ajudarem a colocar iluminação e segurança, vai ser bom."

Aglaia Claudia Petrakis, 47, dona do restaurante grego Acrópoles, também é só elogios. "É maravilhoso, seria muito bom. Tudo que dá uma repaginada é positivo", afirma.

Entre os coreanos, a segurança é a prioridade. "Quantas vezes já fui assaltado aqui no Bom Retiro? Muitas. E meus amigos também", diz o comerciante Oh Eun Kweon, 59.

O governo estadual informa que mantém constante diálogo com o consulado da Coreia do Sul e que a Secretaria dos Transportes Metropolitanos vai analisar o pedido de mudança no nome da estação Tiradentes.

Com relação à criminalidade, o governo afirma que a região conta com diferentes equipamentos públicos de segurança e será sede da 2º Cia do 13º BPM/M.

A Prefeitura de São Paulo diz que a proposta do cônsul é interessante, foi bem acolhida e que está em análise com os setores pertinentes.

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