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Cotidiano

Evangélicos abandonam igrejas após serem obrigados a votarem em Bolsonaro

Enquanto alguns evangélicos buscam outros templos, outros preferem esperar o fim das eleições para poderem seguir sua rotina de fé sem pressões politicas

Leonardo Sandre

24/10/2022 às 17:04  atualizado em 24/10/2022 às 17:12

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Bolsonaro e a primeira dama na Igreja Batista Atitude

Bolsonaro e a primeira dama na Igreja Batista Atitude | Fernando Frazão/Agência Brasil

Incomodados com a pressão política e hostilizados dentro da própria igreja, evangélicos que não apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) têm deixado de frequentar os templos. O fenômeno ganhou impulso após a eleição de Bolsonaro, em 2018, e alcançou ainda mais força agora, na campanha para o segundo turno.

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Eles dizem ter visto o púlpito ser usado para pedir votos ou para condenar opções políticas alinhadas com a esquerda. Quando se posicionam, acabam rejeitados ou são afastados de tarefas nos templos.

"O pastor começou o culto normalmente, falando de como criar filho, com amor, cuidado e respeito. Depois falou: 'não deixa seu filho fazer o 'L' (sinal de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva) em casa, não'", conta a professora Joana (nome fictício), que frequentava uma igreja pentecostal no Rio. "Não voltei. Enquanto não acabar a eleição, não vou", diz ela, de 43 anos. O desconforto começou ainda na pandemia, quando chegou a ouvir que máscaras e vacinas não funcionavam e que "a garantia era Deus".

Depois, com a proximidade das eleições, ela e o marido viram a pregação política tomar conta do púlpito - em geral, ocorre no início ou no fim do culto e principalmente quando a cerimônia não é transmitida pela internet, segundo conta.

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Na reta final das eleições, Bolsonaro tem buscado ainda mais apoio entre os evangélicos, onde já leva vantagem. O presidente tem visitado igrejas evangélicas às vésperas do segundo turno.

Já o oponente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta acenar para o setor: na semana passada, divulgou uma carta aos evangélicos com posicionamento contrário ao aborto e favorável à liberdade religiosa.

Segundo fiéis ouvidos pela reportagem, a "senha" na igreja para tentar convencer os eleitores é dizer que, em uma eventual vitória de Lula, os templos poderão ser fechados. Declarações sobre aborto também fazem parte da pregação.

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"A gente não consegue ir a uma igreja em que não falem de política no fim do culto, em que não demonizem a esquerda", diz a professora, que faz uma peregrinação de templo em templo em busca de algum lugar com neutralidade política.

Para ela, há idolatria a Bolsonaro, "como se ele fosse um Deus". E quem pensa o contrário acaba sendo escanteado. "Eles vão te colocando de lado, te tirando de cargos e funções", diz ela. "Você não é bem-vindo se não votar em Bolsonaro."

O auxiliar administrativo Matheus Rocha, 23, de Iporã, no interior do Paraná, também sentiu o mesmo gelo na igreja pentecostal que frequentava.

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"Em um domingo, o pastor falou que deveríamos votar em Bolsonaro para não sermos impedidos de pregar amanhã", diz ele.

"Nesse dia, não fui ao culto e repostei (nas redes sociais), por acaso, uma publicação de um pastor e teólogo que acompanho e que não apoia o presidente. Quando os membros da igreja viram, acharam que eu estava afrontando meu pastor", contou.

Rocha passou a ser confrontado pela igreja. Primeiramente, foi um parente do pastor. Depois, aos poucos, outros membros passaram a tratá-lo diferente, com frieza.

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"O pessoal começou a não me cumprimentar com a 'paz do Senhor'. Viraram a cara mesmo. A panelinha fechou e eu e minha esposa ficamos jogados para escanteio. Essa situação ficou insustentável ao ponto de eu não conseguir mais frequentar as reuniões."

O pastor até procurou Rocha para uma conversa depois do primeiro turno, mas o tom não foi agradável, segundo ele.

"Ele falava que eu sofri uma lavagem cerebral. Queria mudar minha cabeça, como se eu tivesse de me arrepender da minha escolha política e disse que eu estava indo na contramão de toda a igreja", contou. Ao final do papo, Rocha foi desligado como membro da comunidade.

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Fiéis que deixaram suas igrejas por pressão política buscam templos em que a política partidária não entre na pregação

O pastor Valdinei Ferreira, da primeira igreja presbiteriana independente de São Paulo, diz receber evangélicos que não se sentem mais acolhidos. Uma delas chegou a fazer uma manifestação por escrito contra o templo que frequentava anteriormente.

Ele afirma não tolerar campanha para nenhum candidato dentro do templo - por isso, a igreja atrai fiéis incomodados em outras denominações -mas também diz sofrer pressão.

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"Recebi um telefonema de assessor dizendo que o candidato (a deputado) iria à igreja, se eu poderia chamá-lo à frente para fazer uma oração", conta Ferreira. A reza seria para que fosse bem sucedido na campanha. Ele negou.

Enquanto alguns buscam outros templos, há evangélicos que pararam de frequentar qualquer igreja e esperam ser possível retomar o contato depois do segundo turno das eleições.

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