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Cotidiano
Pesquisas indicam que a carreira das mulheres com filhos está sofrendo muito mais impacto da pandemia do que a de pais
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Arte: Gazeta de S.Paulo | Arte: Gazeta de S.Paulo
No início da quarentena, um grupo de mães do Facebook, com mais de 30 mil membros, fez uma brincadeira: as participantes, que estavam trabalhando de casa, foram convidadas a escrever o que os filhos estavam fazendo, mas referindo-se a eles como colegas de trabalho. Entre as pérolas, surgiram posts como estes: “Meu colega de trabalho interrompe as reuniões pedindo ajuda para fazer cocô”, “Meu colega de trabalho está causando intrigas com a outra colega, enquanto eu tento trabalhar... Acho que eles merecem uma justa causa”, “Meu colega de trabalho pede uma coisa a cada 12 minutos, não me deixa concluir nada, quando eu entendo o raciocínio da primeira tarefa, lá vem ele pedindo outra coisa”, “Hoje meu colega de trabalho passou dos limites achando que a firma era arena e começou a jogar bola nos notebooks.”
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A brincadeira, que serviu para divertir as participantes, revela, contudo, um problema maior: as mulheres estão sobrecarregadas durante a pandemia e com dificuldades de conciliar casa, família e trabalho. Realidade que é colocada em números por uma pesquisa da consultoria McKinsey: uma em cada quatro mulheres com filhos pequenos pensou em desistir da carreira ou reduzir a jornada de trabalho durante a quarentena, percentual que cai para apenas 13% entre os pais na mesma situação.
“A pandemia colocou as mulheres mães entre o trabalho e a família, no mesmo ambiente, 24 horas por dia. Para quem está trabalhando em casa, este ainda não é um home office comum, pois as crianças estão em casa e isso demanda mais atenção dos pais para cuidar dos filhos. (...). A mulher já assumia, antes da pandemia, duas jornadas de trabalho, agora, é mais difícil limitar e separar, é como se a jornada não tivesse fim e as horas do dia não são suficientes para fazer tudo o que é necessário”, argumenta Margareth Goldenberg, gestora executiva do Movimento Mulher 360.
Mercado informal
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Engana-se, contudo, quem pensa que apenas as mães que estão trabalhando em casa estão sofrendo os impactos da pandemia. Goldenberg lembra que o cenário é ainda mais desafiador para as mulheres que precisaram continuar saindo para trabalhar, sobretudo as que dependem do trabalho informal.
“Na perspectiva das profissionais que não podem trabalhar de casa, o peso é ainda maior. Elas saem para o trabalho deixando seus filhos em casa, muitas vezes, sem alguém para cuidar das crianças enquanto está fora. Automaticamente, todos os dias, elas são obrigadas a escolher entre os filhos e o trabalho e, apesar de ser algo que nenhuma mulher deveria ter de escolher, muitas se veem no limite para optar por trabalho ou família, além do esgotamento físico e psicológico.”
Homens fazem parte da solução
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Uma pesquisa da consultoria Filhos no Currículo, em parceria com o Movimento Mulher 360, mostra que, apesar do cansaço, 60% dos profissionais com filhos, gostariam de continuar com essa modalidade de trabalho após a pandemia.
Para aliviar a rotina das mulheres, porém, além da maior empatia das empresas, Goldenberg ressalta que é preciso envolver os pais. “Na maioria das vezes, o homem consegue separar muito bem seu horário de trabalho, enquanto a mulher passa o dia tentando equilibrar inúmeras responsabilidades (...). A divisão de tarefas precisa acontecer. Para isso, o diálogo deve ser frequente, tanto com os companheiros como com os chefes. É um momento propício para repactuações de atribuições e responsabilidades no lar.”
Saiba mais
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Três mulheres que tiveram suas rotinas e carreiras impactadas pela pandemia, contam suas histórias a seguir:
Juliana Trentini, 36 anos, fonoaudióloga, de Indaiatuba
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Juliana morava nos Estados Unidos e voltou ao Brasil com a família alguns meses antes da pandemia desembarcar no Brasil. Fonoaudióloga, ela atendia alguns pacientes em domicílio e buscava um local para montar o próprio consultório quando o isolamento social começou. “Eu tinha a ajuda de uma assistente, mas com a quarentena, no início, precisei lidar sozinha com as demandas das crianças e do trabalho, que, após autorização do Conselho de Fonoaudiologia, passei a fazer pela internet. No começo, meu trabalho ficou bem comprometido, visto que acabei ganhando mais clientes, com o atendimento online. Acabei tendo que contratar uma babá e hoje não pretendo mais abrir o consultório. Eu amo trabalhar em home office e, antes, eu me culpava por ajudar os filhos dos outros, enquanto eu não conseguia dar atenção aos meus. Não é fácil, mas se conseguir montar uma estrutura, vale a pena.”
Juliana é mãe de Lucas, 8 anos, Ceci, 5, e Mila, 1 ano e 8 meses.
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Suzie Clavery Pires Guimarães, 39 anos, gerente de Employer Branding, São Paulo
“Antes da pandemia, eu não trabalhava em esquema home office, então, eu ia todos os dias para o escritório e quem me ajudava com as crianças era minha mãe. Como meus pais já são idosos, na pandemia resolvemos suspender que minha mãe viesse aqui para casa por ela ser do grupo de risco assim como meu pai. Meus filhos são pequenos e têm necessidades básicas que não conseguem suprir sozinhos. Eles precisam de alguém o tempo todo para dar atenção.. É claro que hoje não estamos no home office tradicional, pois estamos vivendo em isolamento social, e isso compromete um pouco o equilíbrio. Alguns serviços ainda não estão funcionando normalmente, assim como a escola das crianças e isso impacta no dia a dia do home office, diferentemente de quando tudo está funcionando normalmente e temos como render e entregar mais no trabalho.“
Suzie é mãe de Lucas, 5 anos, e Alice, 3.
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Milena Biaes, 36 anos, consultora comercial, de Itajubá-MG
“Logo que a pandemia se iniciou aqui no Brasil eu descobri que estava grávida. Inicialmente, a empresa me colocou em suspensão de contrato e fiquei os dois primeiros meses de gestação em casa, depois voltei ao trabalho, em formato home office. Eu já tenho um filho de 5 anos e não conseguia fazer as atividades com meu filho, pra piorar minha mãe sofreu um acidente doméstico e quebrou a perna, foi quando decidi pedir para dar conta de cuidar de todos. Hoje, faço algumas vendas online, sem vínculo empregatício, para uma empresa de web aplicativos. Algumas vezes, é difícil equilibrar tudo e eu preciso estender o meu horário de trabalho para ter os mesmos ganhos de antes. Mas, eu quero aproveitar mais as crianças e pretendo continuar em home office por bastante tempo.”
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Milena é mãe Samuel, 5 anos e Agatha, 4 dias
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