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Automotor
Na disputa entre os automóveis com preço abaixo dos R$ 100 mil, a versão Feel 1.0 do Citroën C3 tenta se destacar pela relação custo/benefício
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O motor 1.0 Firefly, que move a versão Feel 1.0 do C3, marca a estreia da Citroën no segmento de motores de um litro no Brasil | Luiza Kreitlon/AutoMotrix
A Citroën tem uma trajetória singular no mercado brasileiro. Desde a liberação das importações dos automóveis no Brasil, há 30 anos, a marca francesa foi apresentada ao país como a fabricante mais sofisticada do conglomerado francês PSA Peugeot Citroën, ficando a conterrânea Peugeot com a faixa de modelos mais populares – curiosamente, uma inversão do que ocorria na Europa. No início de 2021, com a criação do grupo automotivo franco-ítalo-americano Stellantis – formado a partir da união da a PSA Peugeot Citroën com o conglomerado ítalo-americano Fiat Chrysler Automobiles –, a Citroën passou a dividir com a italiana Fiat a tarefa de representar a Stellantis na briga dos modelos de custo mais baixo. E o escolhido para marcar essa “mudança de atitude” da Citroën foi o hatch compacto C3. Em sua terceira geração, o modelo desembarcou nas concessionárias em setembro do ano passado para disputar o segmento de automóveis com preço abaixo dos R$ 100 mil. A atual linha C3 tem sete versões – começa nos R$ 72.990 da Live 1.0 manual (destinada aos frotistas) e vai até os R$ 102.490 da topo de linha First Edition 1.6 com câmbio automático. A versão mais vendida é a intermediária Feel 1.0, que parte de R$ 83.990 e busca equilibrar o preço enxuto com uma oferta minimamente atraente de equipamentos.
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A grande variação de preços entre as configurações do C3 se dá pela tentativa da Citroën de posicionar o hatch tanto na briga dos subcompactos, com as versões mais equipadas do Renault Kwid e do Fiat Mobi, quanto contra as versões básicas e intermediárias de compactos como o Chevrolet Onix, o Hyundai HB20 e o Fiat Argo. O novo C3 está disponível nas cores Preto Perla Nera (que não gera acréscimo no preço), Branco Banquise (mais R$ 900), Azul Spring, Cinza Artense e Cinza Grafitto (mais R$ 1.500). Há ainda as opções bitom Branco Banquise com teto preto (mais R$ 2.200), Cinza Artense com teto preto, Azul Spring com teto preto e Azul Spring com teto branco (a do modelo testado) – as três últimas somam R$ 2.800 à fatura.
Desenvolvido globalmente sobre uma variante da plataforma modular CMP, o novo compacto produzido no Polo Automotivo de Porto Real (RJ) tem 3,98 metros de comprimento, 1,73 metro de largura, 1,58 metro de altura e 2,54 metros de distância de entre-eixos. O estilo expressa a objetivada “atitude SUV” em detalhes como o design robusto, as linhas verticais e os vincos pronunciados ao longo de toda a carroceria – um conjunto que remete ao SUV médio C4 Cactus. Os “Deux Chevrons” da logomarca receberam uma nova leitura com linhas duplas se iniciando por meio das luzes de condução diurna (DRL) de leds nos faróis bipartidos, cruzando toda a dianteira até o centro. Abaixo dos faróis, nas versões mais caras, ficam as luzes auxiliares de neblina – na Feel 1.0, os lugares são ocupados por tampas redondas pretas. Nas laterais, o C3 também agrega elementos evocando à estética lameira, começando pelas barras de teto longitudinais e passando pelos vincos que saem das extremidades da carroceria. Arcos nos para-lamas dão uma pitada de brutalidade ao visual. O novo compacto recebeu ainda os Airbumps – adereços plásticos aplicados nos para-choques e nas laterais, já adotados em outros modelos da Citroën. Na traseira, as lanternas se integram às linhas do veículo e o para-choque tem um amplo elemento preto na parte inferior.
O C3 Feel 1.0 traz um motor bastante conhecido no mercado brasileiro – o 1.0 Firefly de até 75 cavalos de potência e 10,7 kgfm de torque, que marcou a estreia da Citroën no segmento de propulsores 1.0 no Brasil. Fartamente aplicado na Fiat, em modelos como os hatches Argo e Mobi, o motor tem corrente de comando “for life”, sistema de pré-aquecimento de etanol e coletor de escape integrado ao cabeçote. No C3, o 1.0 Firefly está sempre associado ao câmbio manual de 5 marchas.
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Desde a versão de entrada Live 1.0, o C3 traz de série direção elétrica progressiva, ar-condicionado, airbag duplo, controle de estabilidade e tração com assistente de partida em rampa, vidros dianteiros e travas elétricas, monitoramento de pressão dos pneus, indicador de trocas de marcha e painel digital com computador de bordo. A Live Pack 1.0 acrescenta a multimídia Citroën Connect, USB no console, volante com comandos do som e Bluetooth e banco dianteiro do motorista com ajuste de altura. A Feel está disponível com motores 1.0 ou 1.6 e agrega vidros traseiros elétricos, alarme perimétrico, volante com ajuste de altura, luzes de condução diurna de leds, rodas de liga leve de 15 polegadas, barras longitudinais no teto, “Chevron” cromado e maçanetas na cor da carroceria.
Experiência a bordo
Prós e contras
O novo C3 proporciona uma posição de dirigir mais elevada do que o normal nos hatches. A sensação de espaço no interior do carro é favorecida pelos cerca de 10 centímetros a mais na altura em relação aos rivais de categoria. No centro do tablier, aparece a maior atração a bordo: o multimídia Citroën Connect, com tela “touschscreen” de 10 polegadas, que traz rádio, Bluetooth e integração com smartphones e espelhamento com Android Auto ou Apple CarPlay, sem a necessidade de fios. É simples, mas funciona bem. Há entrada USB dianteira e comandos de controle no volante, com acionamento por voz, controles de chamada e volume. O ar-condicionado é eficiente e gela o ambiente rapidamente.
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Todas as versões do C3 têm painel em dois tons – na Feel 1.0, uma faixa azul metálica cruza horizontalmente todo o conjunto. O interior é dominado por revestimentos rígidos. O acabamento e o encaixe de algumas peças transmitem impressão de fragilidade, algo que pode frustrar os saudosistas dos requintados Citroën das décadas passadas. O ocupante do lugar central na traseira disputa espaço com o console central dos bancos dianteiros, que avança um pouco para a parte de trás. O quadro de instrumentos não inclui conta-giros e, embora seja digital, é extremamente simples e quase “vintage”. Até a tipologia dos dígitos é antiquada. As informações do computador de bordo são disponibilizadas por um anacrônico botãozinho no próprio painel. A chave do carro é uma peça com a lâmina fixa exposta e algumas rebarbas, com os botões na base para trancar e destravar as portas – parece pertencer a um modelo do século passado. Os comandos dos vidros elétricos traseiros posicionados no console central também mereceriam ser deixados nos automóveis de outrora.
Impressões ao Dirigir
Contraste entre estética e dinâmica
A terceira geração do C3 ainda é uma novidade no mercado nacional. Com seu estilo robusto inspirado nos SUVs, normalmente atrai olhares por onde passa – efeito bastante potencializado pela vistosa coloração Azul Spring com teto branco do modelo avaliado. Apesar do que o visual arrojado promete, na versão Feel 1.0, o motor Firefly (de origem Fiat) de até 75 cavalos de potência e 10,7 kgfm de torque não faz milagres. Com três cilindros em linha e duas válvulas por cilindro, prioriza a entrega de torque em baixas rotações, algo que favorece a utilização urbana. Na estrada, a potência limitada se faz notar nas velocidades mais elevadas. O câmbio, igualmente “herdado” do Argo e do Cronos, tem engates corretos e proporciona trocas fáceis, mas uma relação de marchas um pouco mais curta compensaria um pouco a potência restrita do motor. A suspensão entrega boa estabilidade e conforto ao rodar, com um curso longo o suficiente para não atingir final de curso em pisos ruins. Nas curvas rápidas, o conjunto se revela equilibrado e não aderna excessivamente, apesar da carroceria alta. A direção elétrica é suave em manobras e progressivamente firme conforme o carro acelera – poderia ser um pouco mais firme.
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Pelo fato de os bancos serem posicionados de forma elevada e o para-brisa não ser tão amplo quanto na geração anterior, a visibilidade do motorista fica prejudicada – um problema que pode incomodar especialmente os condutores mais altos, pois o limite do para-brisa fica quase na altura dos olhos. Motoristas de maior estatura eventualmente precisam se abaixar para visualizar o semáforo, em algumas situações. A visualização ainda é atrapalhada pelo posicionamento do espelho interno, que invade exageradamente o campo de visão disponível. Na hora de estacionar, faz falta um sensor de estacionamento traseiro – só disponível como opcional, junto com a câmera de ré (R$ 1.400). Pelos dados do Inmetro, o consumo do C3 Feel 1.0 fica em 9,3 km/l com etanol e 12,9 km/l com gasolina na cidade e em 10 km/l com etanol e 14,1 km/l com gasolina na estrada. São números razoáveis, no entanto, nada tão impressionante para um modelo recém-lançado. Um “powertrain” que se harmonizasse melhor com a inegável ousadia do estilo faria bem ao C3 Feel 1.0.
Ficha Técnica
Citroën C3 Feel 1.0
Motor: 999 cm³, três cilindros em linha, flex
Potência: 75 cavalos (etanol) e 71 cavalos (gasolina) a 6 mil rpm
Torque: 10,7 kgfm (etanol) a 3.250 rpm e 10 kgfm (gasolina) a 4.250 rpm
Transmissão: câmbio manual de 5 marchas
Tração: dianteira
Direção: tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
Freios: disco sólido na dianteira e tambor na traseira
Suspensão: dianteira tipo MacPherson com barra estabilizadora, traseira com eixo de torção
Altura mínima em relação ao solo: 18 centímetros
Rodas/pneus: 5,5 x 15” de liga leve /195/65R15
Dimensões: 3,98 metro de comprimento, 1,73 metro de largura, 1,58 metro de altura e 2,54 metros de distância de entre-eixos
Peso: 1.056 kg
Porta-malas: 315 litros
Tanque: 47 litros
Preço: R$ 83.990 mais R$ 2.800 pela cor Azul Spring com teto branco do modelo testado
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