A+

A-

Alternar Contraste

Sábado, 07 Setembro 2024

Buscar no Site

x

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp
Home Seta

Entretenimento

Elifas Andreato, artista 'que melhor ilustrou a alma brasileira', morre em SP

Artista plástico, considerado o maior capista de discos da história do País, deixa filhos, netos e uma obra de amor ao Brasil

Bruno Hoffmann

29/03/2022 às 11:39  atualizado em 29/03/2022 às 13:36

Continua depois da publicidade

Compartilhe:

Facebook Twitter WhatsApp Telegram
Elifas Andreato (de boina), ao lado da filha Laura, do irmão Elias e do filho Bento

Elifas Andreato (de boina), ao lado da filha Laura, do irmão Elias e do filho Bento | Reprodução/Facebook

O artista plástico Elifas Andreato morreu nesta terça-feira, em São Paulo, após complicações cardíacas. Ele tinha 76 anos – quase todos dedicados a exaltar as belezas e a revelar as agruras do Brasil.

Continua depois da publicidade

Com quase 60 anos de carreira voltada para as artes, o paranaense nascido em Rolândia se tornou notório por produzir mais de 350 capas de discos surpreendentes para os artistas mais importantes da música popular nacional: Chico Buarque, Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Adoniran Barbosa, Criolo, Clara Nunes, Elis Regina, Rita Lee e tantos outros.

Elifas dizia que não fazia a capa por fazer, e costumava arrumar brigas com diretores de gravadoras para produzir a arte do jeito que seu coração mandava. Ele buscava ganhar intimidade com o artista para conseguir captar melhor sua personalidade, para, aí sim, produzir a obra.

No fim dos anos 1970, por exemplo, o diretor de uma gravadora pediu um desenho para a capa do novo LP de Adoniran Barbosa. Elifas, com sensibilidade, o desenhou como um palhaço triste, com lágrimas aos olhos. O diretor reclamou: “Olha, Elifas, acho que o Adoniran não vai gostar nada de ser retratado desse jeito. Faça uma outra”. O desenho foi refeito de um jeito tradicional, até careta.

Continua depois da publicidade

Poucos meses depois Adoniran viu a imagem original. E, realmente, não gostou nada… De aquela não ter sido usada na capa do disco. Ligou para o artista plástico: “Eu sou este palhaço triste, não aquele alemão que você pôs no LP”.

“Acatar a opinião do diretor da gravadora é o grande arrependimento da minha carreira”, confessou Elifas anos depois.

Carreira

Continua depois da publicidade

O paranaense do interior aprendeu o ofício ainda na adolescência, de forma autodidata, quando, já morando na periferia de São Paulo, foi chamado para pintar painéis decorativos para um baile na empresa em que trabalhava como torneiro mecânico. Logo chamou a atenção e conseguiu um trabalho como estagiário na Editora Abril.

Destacou-se rapidamente, e em meados da década de 1960 já comandava a arte de títulos importantes, como Manequim, Claudia, Quatro Rodas e Placar. Ao mesmo tempo, colaborava com revistas clandestinas que buscavam revelar os horrores da ditadura militar.

 No início da década de 1970 começou a intensificar a produção das capas de disco para grandes artistas, quebrando o lugar-comum de boa parte das capas até então. Um dos destaques foi a feita para “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola, em que revela o compositor com lágrimas aos olhos e um buquê de flores. Paulinho havia acabado de se separar.

Continua depois da publicidade

Elifas, porém, tinha sua capa preferida: a que retrata Clementina de Jesus. “É a nossa Monalisa”, disse o poeta Hermínio Bello de Carvalho.

Em 1973, engajado na luta política contra a ditadura, o artista pediu demissão do cargo de diretor de arte da Abril Cultural para integrar a equipe do recém-fundado jornal carioca Opinião. Também participou como diretor de arte de publicações paulistas, como o jornal Movimento e a revista Argumento.

Continua depois da publicidade

Além disso, produziu cartazes para peças de teatro. Uma das mais emblemáticas – e arriscadas – foi feita em 1977 para a peça “Morte Sem Sepultura”, dirigida por Fernando Peixoto sobre a obra de Jean-Paul Sartre. A imagem feita por suas mãos retratava uma cena de tortura em um pau-de-arara. “Não podia me calar diante da barbaridade”, explicou.

No fim da década de 1990 lançou a revista Almanaque Brasil, uma publicação mensal distribuída em voos da TAM. que rodou até 2014 ininterruptamente. O “Almanaque do Elifas” tinha a missão de revelar as histórias grandes e miúdas do Brasil e dos brasileiros.

Para os funcionários da redação, a maioria formada por jovens repórteres e artistas gráficos, ele costumava contar suas histórias de forma entusiasmada. Relembrava, entre risos, como Chico Buarque poderia ficar bravo durante jogos de futebol, a elegância cotidiana de Paulinho da Viola e a saudade que tinha de Clara Nunes.

Continua depois da publicidade

O artista também, por vezes, deixava escapar um certo dissabor pela falta de reconhecimento que o Brasil dedicava aos grandes nomes da cultura deste País. Ele incluído.

Em 2018, ele lançou Traços e Cores,livro que reúne mais de 600 reproduções de obras de sua autoria, criações das mais variadas épocas e segmentos. Era a forma, dizia, de enfim organizar suas produções para a posteridade. E ele tinha muito orgulho delas.

Morte

Continua depois da publicidade

Após a confimação da morte, por complicações de um infarto sofrido há alguns dias, diversas personalidades da vida cultural do País se manifestaram com tristeza pelo acontecimento. Talvez o texto mais sensível tenha sido do compositor Emicida.

"Elifas Andreato descansou. Aquele que melhor ilustrou a alma brasileira, foi agora para junto das estrelas e de lá seguirá nos inspirando. Porque a vida tem que ser bonita sim e é pra isso que a arte existe! Obrigado mestre. Que a terra lhe seja leve! Do seu aluno Emicida".

Continua depois da publicidade

Elifas Andreato deixa os filhos Bento e Laura, três netos e uma legião de saudosistas que teve a sorte de conhecê-lo, ou, até melhor, de trabalhar com ele. Como é o caso deste repórter.

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Conteúdos Recomendados